Entrega do Fóssil Colossal na COP27 (Foto: Claudio Angelo/OC)

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Brasil de Bolsonaro ganha “menção desonrosa” na COP27

Rede de ONGs concedeu antiprêmio Fóssil Colossal no final da conferência de Sharm El-Sheikh pelo conjunto da obra de Bolsonaro; Rússia e EUA também levaram

19.11.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC, EM SHARM EL-SHEIKH – O Brasil foi destacado juntamente com a Rússia numa “menção desonrosa” no antiprêmio Fóssil Colossal, concedido nesta sexta-feira (18) na COP27 pela rede internacional de ONGs CAN (Climate Action Network). O país recebeu o antiprêmio pelo conjunto da obra do governo Bolsonaro, por “ter passado os últimos quatro anos tentando detonar o Acordo de Paris”.

A premiação satírica encerrou com vaias a participação do governo de extrema-direita do Brasil em conferências do clima. Mais cedo, o ex-ministro do Meio Ambiente no cargo Joaquim Leite já havia sido flagrado embarcando num passeio para mergulhar entre os corais do Mar Vermelho – em plena manhã de intensas negociações na conferência.

Durante as duas semanas de COP, os representantes do regime Bolsonaro falaram sozinhos em Sharm El-Sheikh num pavilhão oficial quase sempre esvaziado, enquanto o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva arrastou multidões em sua passagem pela conferência e o Brazil Hub, o pavilhão da sociedade civil, mantinha-se lotado. Ao admitir o passeio matinal pelo jornal Folha de S.Paulo, Leite tentou se justificar dizendo que estava “todos os dias” na conferência por ser o chefe da delegação – mas não soube citar o nome de nenhum negociador da equipe que ele em tese chefia.

O Fóssil Colossal é a premiação de encerramento do Fóssil do Dia. O “troféu” é concedido pela CAN diariamente às 18h aos países que mais atrapalham as negociações climáticas. Ao final da COP, as ONGs fazem um balanço de quem “fez o melhor para ser o pior” de toda a conferência. O objetivo é criar pressão em cima dos negociadores, e frequentemente funciona.

O grande vencedor do Fóssil Colossal na COP27 foram os Estados Unidos, por sua insistência em bloquear a criação de um fundo para perdas e danos – o principal resultado esperado de Sharm El-Sheikh. O mestre de cerimônias do Fóssil, Kevin Buckland, afirmou em seu discurso de nomeação que o governo Biden age nesse tema exatamente como o de Donald Trump, “só que com um sorriso no rosto”.

Os EUA tentam insistentemente passar a borracha em cima de suas responsabilidades históricas no aquecimento global observado, pressionando para que a China e outros países emergentes ampliem suas metas de corte de emissões e contribuam financeiramente com os países pobres. Como na Convenção do Clima da ONU não existe divisão entre países ricos, pobres e remediados (apenas “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”), os emergentes não aceitam.

A Rússia recebeu a menção desonrosa por ter essencialmente destruído o clima geopolítico para um avanço importante na COP27. Com a guerra na Ucrânia, vários países reduziram seus esforços de transição energética e se voltaram aos combustíveis fósseis. Mas não apenas isso. “Ei, Rússia! Vocês têm mantido de forma suspeita um perfil discreto na COP27, mas não pensem que não vimos os 30 lobistas de combustíveis fósseis na sua delegação”, afirma o comunicado de imprensa da CAN. Como é tradição, um ativista do país “premiado” vai receber o troféu em nome de sua nação. O russo fez um discurso curto: “A gente é mau, o que vocês querem que eu diga?”

Ao premiar o Brasil, a CAN fez uma distinção entre o país e o governo que sai, lembrando a ficha corrida de Bolsonaro em termos de aumento de emissões, desmatamento e violação dos direitos dos povos indígenas. “Embora os ventos estejam mudando no Brasil, nós não podemos ignorar o estrago feito. Adeus e passar bem, Bolsonaro e seu desastre climático”, afirma a nota.

Ao aceitar o prêmio em nome de seu país, a ativista jovem Val Munduruku enfileirou as atrocidades socioambientais do governo. Ao final, puxou o coro: “Tá na hora do Jair…”

“Já ir embora!”, gritaram de volta os brasileiros na plateia.

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