400 mortos no Congo, 37ºC em Sevilha: mais um mês no novo normal
Desaparecidos em deslizamentos no país africano passam de 5.000, enquanto hemisfério Norte tosta em primavera extrema; e o El Niño ainda nem começou
DO OC – Na série de TV Extrapolations (Apple), a humanidade normaliza um planeta imerso em impactos permanentes e irreversíveis da crise do clima, nos anos 2040, e leva a vida tranquilamente enquanto florestas pegam fogo e milhões de pessoas são deslocadas por ano devido a eventos extremos. Nas últimas semanas o mundo teve mais um gostinho dessa distopia, enquanto tragédias climáticas se desenrolam na África, na Europa e na América do Norte.
O pior caso no momento é na República Democrática do Congo, onde deslizamentos causados por chuvas extremas no início de maio já mataram pelo menos 410 pessoas na província de Kivu do Sul. Até agora há 5.500 desaparecidos, e milhares de desabrigados, segundo o jornal The Guardian.
O Congo é um dos principais países com florestas tropicais do mundo, e a região afetada é uma zona de intenso desmatamento. Combinada à deficiência de infraestrutura, a eliminação de florestas torna encostas mais vulneráveis a deslizamentos, e as margens de rios, mais sujeitas a inundações.
“Se nenhum plano de mitigação for adotado, a mudança climática vai continuar trazendo mais desastres do que o que estamos vendo agora”, disse ao Guardian José Aruna, coordenador de uma rede da sociedade civil em Kivu do Sul. O Congo já sofreu com enchentes que mataram mais de uma centena de pessoas no ano passado.
Na parte mais afluente do mundo, eventos extremos de sinal trocado – calor e seca em vez de inundações e enxurradas – também castigam populações inteiras. A Espanha teve o mês de abril mais quente da série histórica, com temperaturas 3oC acima da média para o mês. Segundo a Agência Estatal de Meteorologia espanhola, Os termômetros bateram 38,8oC em Córdoba e 36,9oC em Sevilha, ambas na região da Andaluzia, sul do país. Portugal, Argélia e Marrocos também registraram picos de calor, três meses antes da chegada do verão: 41oC em Marrakesh e 36,9oC no sul de Portugal. Segundo a Rede Mundial de Atribuição, a seca e a onda de calor que afetaram a região do Mediterrâneo no mês passado seriam praticamente impossíveis sem a mudança do clima.
E vem mais por aí: segundo a Organização Meteorológica Mundial, o planeta entrará nas próximas semanas em condições de El Niño, o fenômeno periódico (mas cada vez mais frequente) de aquecimento das águas do Pacífico tropical que altera os padrões meteorológicos no mundo todo. Segundo a OMM, há 60% de chance de o El Niño começar entre maio e junho, 70% de chance entre julho e agosto e 80% entre julho e setembro.
O El Niño aumenta a seca e os incêndios em partes da Amazônia, no Nordeste do Brasil, na Austrália e no sul da África, e causa mais chuvas na bacia do Prata, no sul dos EUA e no leste africano. Na média, todo o planeta fica mais quente. Nos últimos três anos, o mundo passou por um fenômeno oposto, o La Niña, que abaixa as temperaturas. Mesmo assim esses três anos estiveram entre os oito mais quentes da história desde o início das medições com termômetros, em 1850.
“O desenvolvimento do El Niño muito provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e no aumento da chance de quebra de recordes de temperatura”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.[:]