Comunidade do povo indígena Kokama às margens do rio Tefé, no Amazonas, em outubro de 2023 (Marizilda Cruppe / Greenpeace)

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Mudanças climáticas pioraram seca na Amazônia, mostra estudo

O fenômeno natural El Niño também diminuiu a quantidade de chuvas, mas em um planeta menos quente a sequidão seria menos intensa

24.01.2024 - Atualizado 14.03.2024 às 10:18 |

DO OC – A seca histórica que isolou comunidades na Amazônia no ano passado foi intensificada pelas mudanças climáticas, diz estudo da Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês). A região foi atingida pela seca meteorológica, período prolongado com pouca ou nenhuma chuva, e agrícola, quando o solo tem pouca umidade. Segundo o artigo publicado nesta quarta-feira (24), com o clima 1,2 °C mais quente que na época pré-industrial (1850-1900), as secas meteorológicas poderão ocorrer a cada 100 anos e serão 10 vezes mais prováveis na região. Já as agrícolas poderão ocorrer a cada 50 anos, além de terem se tornado 30 vezes mais prováveis.

Os pesquisadores analisaram o período de junho a novembro de 2023 e o impacto do El Niño, fenômeno natural que costuma deixar o Norte mais seco. Se o aquecimento global atingir 2°C – o planeta terminou 2023 com 1,48°C acima da média pré-industrial –, as secas meteorológicas na bacia Amazônica poderão ocorrer a cada 33 anos e serão quatro vezes mais prováveis. As agrícolas poderão ser frequentes a cada 13 anos e três vezes mais prováveis. 

De acordo com a pesquisa, o El Niño reduziu a quantidade de chuvas quase na mesma proporção que as mudanças climáticas. Porém, as alterações climáticas deixaram o tempo mais quente. “Com cada fração de grau de aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis, o risco de seca na Amazônia continuará aumentando, independentemente do El Niño”, diz Ben Clarke, pesquisador na Imperial College London e um dos autores do artigo.

A destruição da floresta também tem uma parcela de culpa que vai além do fato de que menos árvores interferem negativamente no clima. A falta de vegetação reduz a capacidade da terra reter água, o que torna as áreas devastadas mais suscetíveis à seca. “Embora a taxa de desmatamento tenha diminuído no ano passado, os vários anos anteriores com desmatamento elevado resultaram numa superfície terrestre menos resiliente e mais seca”, diz o artigo. 

O estudo também destaca a influência da mineração e das queimadas próximas aos rios, pois são ações que contribuem para a queda de terra nas águas. “Para proteger a saúde da Amazônia, precisamos proteger a floresta tropical e nos afastar dos combustíveis fósseis o mais rápido possível”, comenta Regina Rodrigues, co-autora do artigo e professora de oceanografia e clima na Universidade Federal de Santa Catarina.

Em algumas regiões da bacia amazônica, os rios atingiram os níveis mais baixos em mais de 120 anos de registro. Aproximadamente 30 milhões de habitantes espalhados pela Amazônia brasileira, peruana, colombiana, venezuelana, equatoriana e boliviana podem ter sido afetados. No Brasil, a seca dos rios reduziu o transporte fluviário de mercadorias no Amazonas, o que prejudicou o abastecimento de alimentos, medicamentos e água potável.

“Isso resultou em serviços de saúde gravemente comprometidos no estado do Amazonas, onde os serviços foram interrompidos por falta de água e suprimentos. Centenas de comunidades ficaram totalmente isoladas e sem acesso à locomoção ao longo do rio Negro e seus afluentes”, diz o artigo.

A seca ainda contribuiu para a propagação de incêndios florestais, que aumentaram a poluição do ar por causa da fumaça. A pouca água e o aumento da temperatura dela também provocaram a morte de animais. No lago de Tefé, no Amazonas, a temperatura alcançou quase 40 °C. Mais de 150 botos cor-de-rosa, animais em “perigo de extinção”, morreram no lago.

Por fim, o artigo alertou para que haja fortalecimento de intervenções governamentais para apoiar as comunidades na preparação para lidar com a intensificação das secas na Amazônia devido ao avanço das mudanças climáticas. “Analisamos o impacto da seca em toda a bacia amazônica e constatamos que as comunidades ribeirinhas e indígenas são e continuarão sendo as mais vulneráveis”, diz Simphiwe Stewart, co-autora do artigo e consultora técnica no Centro de Clima da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho. (PRISCILA PACHECO[:]

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