Vegetação nativa da Amazônia tem sido mais atingida por incêndios (© Victor Moriyama / Amazônia em Chamas)

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Mudanças climáticas mudam padrões do fogo na Amazônia

Área queimada no bioma em 2023 foi 36% maior do que em 2022, enquanto que os alertas de desmatamento foram 50% menores

01.07.2024 - Atualizado 08.07.2024 às 12:50 |

DO OC – Uma nota técnica produzida por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e da Nasa mostra uma piora nos incêndios florestais na Amazônia brasileira, apesar da redução dos alertas de desmatamento em 2023. No ano passado, de janeiro a dezembro, 107.572 km2 foram queimados, o que equivale a um aumento de 36% em comparação ao mesmo período de 2022. Segundo a nota, o tempo seco intensificado pelas mudanças climáticas podem ter contribuído para o alastramento do fogo. Por outro lado, os alertas de desmatamento caíram de 10.278 km2 para 5.154 km2. 

“A gente sempre pensa que reduzir o desmatamento vai ajudar a reduzir o fogo, mas os resultados deste estudo demonstram claramente os efeitos das condições climáticas nesse processo”, diz Ane Alencar, diretora de ciências do IPAM e uma das autoras da nota técnica publicada no dia 28 de junho. O documento aponta que as medidas de combate ao desmatamento devem continuar – a vegetação derrubada é combustível para o fogo –, mas aliadas com ações que considerem o clima anormal.

As análises foram feitas com dados do DETER, sistema de alerta de desmatamento mensal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Monitor de Fogo, iniciativa coordenada pelo IPAM, números de uso e cobertura de terra do MapBiomas Coleção 8 e categorias fundiárias.

Os pesquisadores também averiguaram que mais vegetação nativa (56,7%) foi queimada em 2023 do que áreas agrícolas e com pastagens (43,3%). Em 2022, florestas e campos naturais corresponderam a 37% da área queimada, enquanto que a parte dominada pela agropecuária atingiu 62%. 

Ao separar por categoria, foi identificado que as florestas, tanto as localizadas em terra firme quanto as em região alagada e mangue, tiveram um aumento de 121% na área queimada. Os campos naturais, que inclui os alagados, campinaranas e lavrados, saltaram 153%. O aumento da área queimada piorou em outubro, novembro e dezembro. Já a formação vegetal classificada como savânica pelo MapBiomas teve redução de 5,9% entre 2022 e 2023. A savana representa apenas 0,36% da vegetação nativa amazônica, que é dominada pelas formações florestais (77%).

Já as queimadas em pastagem plantada e em áreas agrícolas  tiveram uma redução de 10% e 50%, respectivamente. A redução das queimadas ficou evidente nas pastagens antes de agosto de 2023, enquanto que nas áreas agrícolas começou a cair ainda no começo do ano.

“O aumento da área afetada por incêndios pode ter sido um reflexo das condições climáticas que permitiram a expansão da área afetada pelo fogo, enquanto a redução da área queimada associada a práticas agropecuárias pode ter sido um efeito da redução do desmatamento”, diz a nota. Estudos publicados neste ano comprovam que a seca intensa na Amazônia em 2023 foi favorecida pelo aumento do aquecimento global.

A análise por categoria fundiária apontou que os imóveis rurais incluídos no Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF) e no Cadastro Ambiental Rural (CAR) não registraram aumento na área queimada. Por outro lado, Terras Indígenas, Unidades de Conservação e terras públicas ainda não destinadas ou sem informação tiveram crescimento entre 2023 e 2022 de 73%, 57% e 62%, respectivamente. Também houve aumento de 56% em assentamentos, 32% nas florestas públicas não destinadas e 26% em territórios quilombolas.

De acordo com a nota técnica, a dinâmica do fogo e do desmatamento na Amazônia em 2022 e 2023 mostram tendências e padrões diferenciados e preocupantes. “Considerando a crise climática global, que tem aumentado a vulnerabilidade da região a secas mais severas e, essas, por sua vez, podem aumentar a frequência e a intensidade dos incêndios, o ano de 2023 demonstrou que focar somente no combate do desmatamento pode ajudar a reduzir o problema do fogo, mas não serão o suficiente para evitá-lo”, diz o documento. 

Os pesquisadores ressaltam que, para que haja uma redução contínua da área queimada na Amazônia, é essencial adotar uma abordagem abrangente que envolva uma série de medidas coordenadas entre governos municipais, estaduais e federal. A sociedade civil, comunidades locais e empresas também têm um papel fundamental em algumas ações. Foram feitas seis recomendações: 

1 – Continuar e fortalecer a estratégia de combate ao desmatamento na Amazônia;

2 – Garantir recursos e capacitação para as instituições responsáveis pela proteção ambiental e combate às queimadas e aos incêndios, como IBAMA/Prevfogo, ICMbio e bombeiros;

3 – Promover o engajamento das brigadas de combate a incêndios, sejam elas voluntárias, privadas e/ou apoiadas pelo governo, fornecendo os recursos e treinamento adequados;

4 – Decretar moratórias temporárias, alertas de seca severa e estado de emergência ambiental para o uso do fogo em épocas de seca extrema;

5 – Implementar e fortalecer o Manejo Integrado do Fogo (MIF) como técnica para o controle do fogo na paisagem, assim como as políticas e programas que incentivem práticas agrícolas e de manejo de pastagens, principalmente as plantadas, que não dependam do uso do fogo;

6 – Realizar campanhas de comunicação e educação ambiental para sensibilizar a população sobre os impactos negativos das queimadas e as alternativas disponíveis para prevenir incêndios florestais, além de alertas de seca extrema. (PRISCILA PACHECO)

 



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