Cruzamento em Nova Déli durante onda de calor (Foto: Harish/Tyagi/EPA)

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Índia registra calor de 51 graus

Relatório indica que impactos das mudanças climáticas aos quais países não podem se adaptar e aumento da toxicidade de culturas agrícolas são ‘desafios ambientais emergentes’

20.05.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

DO OC

Deslizamentos no Sri Lanka após chuvas fortes últimos dias mataram 40 pessoas e deixaram outras 150 desaparecidas. Cerca de 300 mil foram forçadas a deixar suas casas. Na Índia, o caso é o oposto: o país passa por uma seca recorde e, nesta quinta-feira, o registrou a temperatura mais alta de sua história: 51oC.

Os impactos mais graves das mudanças climáticas foram classificados nesta sexta-feira (20) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como uma das ameaças ambientais emergentes deste século No relatório Fronteiras 2016, o Pnuma aponta seis questões que exigem atenção redobrada dos tomadores de decisão. Duas delas têm a ver diretamente com a mudança climática: a questão das perdas e danos e o aumento da toxicidade das culturas agrícolas em resposta a estresses ambientais.

Plantas como o milho, a mandioca e a soja tendem a acumular nitratos quando expostas a secas prolongadas – nitrogênio retirado do solo que elas não conseguem converter em aminoácidos. Esses nitratos são tóxicos especialmente para animais. A contaminação por aflatoxinas (toxinas potentes derivadas de fungos, prejudiciais a humanos) também tem crescido em várias culturas nas zonas temperadas, antes menos sujeitas a esse problema.

O relatório foi apresentado em Nairóbi, sede do Pnuma, no mesmo dia em que em Bonn, Alemanha, representantes de 195 países encerraram a primeira semana de negociações sobre a regulamentação do acordo do clima de Paris. As conversas em Bonn, que vão até o dia 26, devem produzir uma agenda de trabalho para a COP22, a conferência do clima de Marrakesh.

Um dos temas que precisam ganhar mais “carne” na discussão do acordo é justamente a questão de perdas e danos. O nome é dado aos efeitos das mudanças do clima aos quais os países não podem se adaptar, como furacões e ondas de calor – como a que castiga a Índia, que enfrenta uma estiagem numa região habitada por 300 milhões de pessoas.

Na quinta-feira, a cidade de Falodi, no Rajastão, registrou 51oC, o recorde absoluto de temperatura no país. Moradores locais pediram ajuda ao governo para mitigar a onda de calor. No ano passado, mais de 1.500 pessoas morreram na Índia em consequência de fenômenos do tipo.

Segundo o Pnuma, as mudanças climáticas “estão acontecendo, seguirão acontecendo no futuro previsível (…) e estão sendo mais rápidas do que muitos antecipavam”. O relatório cita a onda de calor de 2003 na Europa, que matou 30 mil pessoas, e o tufão Haiyan, que atingiu as Filipinas em 2013 e matou mais de 6.000, como exemplos de fenômenos que estão mais frequentes com as mudanças do clima.

“Isso tudo está acontecendo com 1oC de aquecimento”, disse Harjeet Singh, da ONG ActionAid. “Estamos mirando em 1,5oC e o atual nível de ambição nos leva a 3oC”, afirmou. “A menos que nós coloquemos a adaptação e as perdas e danos em foco, não conseguiremos implementar o Acordo de Paris em sua plenitude.”

No ano passado, os países em desenvolvimento conseguiram uma vitória política ao incluir a menção a perdas e danos no Acordo de Paris – contra a vontade dos ricos, que temiam abrir uma brecha para a cobrança de reparações pelo aquecimento provocado sobretudo por eles. Na COP de Marrakesh, espera-se avançar no detalhamento de como funcionará o mecanismo global de perdas e danos, quem terá direito a quanto e quem paga.

Um dos problemas no caminho do acordo sobre perdas e danos é o nó górdio das negociações de clima de maneira geral: dinheiro. A estimativa do o custo global da adaptação nos países pobres, revisada pelo Pnuma na semana passada, chega a US$ 200 bilhões em 2030. Só que a promessa dos países ricos de financiamento até 2020 só chega a metade disso – e, desses US$ 100 bilhões, apenas 50% devem ir para adaptação. Para que houvesse acordo em Paris, a discussão sobre como elevar a finança para além do patamar de US$ 100 bilhões foi deixada para 2025.

Ocorre que, segundo estimativas do Climate Justice Programme, a verba necessária para perdas e danos é duas vezes maior do que a necessária para adaptação – são pelo menos US$ 400 bilhões em 2030. “Hoje, apenas nos 48 países menos desenvolvidos, esse custo é de US$ 40 bilhões”, disse Julie-Ann Richards, do Climate Justice, em entrevista coletiva nesta sexta-feira em Bonn. É o dobro de tudo o que já foi desembolsado pelos países ricos para o clima até 2014, incluindo empréstimos.

“Em Marrakesh, os países desenvolvidos precisam deixar claro como entregarão os US$ 100 bilhões por ano [em 2020]”, disse Richards.

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