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Maggi diz que NDC é apenas “intenção”

OC entrega carta à chefia da delegação brasileira na COP22 expressando “surpresa e preocupação” com declarações do ministro da Agricultura, que condicionou Acordo de Paris a dinheiro

17.11.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

PRESS RELEASE

MARRAKESH, 17 DE NOVEMBRO DE 2016 – O Observatório do Clima entregou nesta quinta-feira (17), em Marrakesh, uma carta aos ministros José Sarney Filho (Meio Ambiente) e Blairo Maggi (Agricultura) manifestando preocupação com posicionamentos que vêm sendo expressos por Maggi durante a COP22.

Nos últimos dias, o ministro já disse que a “consciência” dos produtores mantém florestas preservadas; que assassinatos de ambientalistas no Brasil são “problemas de relacionamento”; e que a agropecuária “não é a vilã” das mudanças climáticas.

Nesta quinta-feira, durante evento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Maggi foi além: chamou de “intenção” a NDC do Brasil, cujo cumprimento tornou-se obrigatório desde a entrada de vigor do Acordo de Paris, e condicionou-a a financiamento externo. Quando apresentou a NDC, no ano passado, o governo brasileiro não a condicionou a financiamento.

Segundo Maggi, o setor agropecuário precisa de US$ 40 bilhões para financiar o cumprimento da NDC. Na carta, o OC afirma que esse dinheiro já existe.

“Apenas em 2016 o Plano Safra destinou R$ 202 bilhões ao financiamento do setor agropecuário, cuja inadimplência histórica média é de cerca de 5%. Somente o custo de equalização dos juros do Plano Safra, em julho de 2015, atingiu R$ 13,4 bilhões. Ou seja, mesmo admitindo que a estimativa do ministro Blairo Maggi esteja certa, haveria dinheiro para bancar a NDC. Bastaria, para isso, que os agricultores pagassem suas dívidas.”

“O setor rural brasileiro tem uma imensa responsabilidade sobre a contribuição brasileira para as emissões globais de gases de efeito estufa e, portanto, para o aquecimento global. Avanços na luta contra o desmatamento foram feitos na última década, o que deve ser reconhecido. Mas estamos muito longe de uma agropecuária sustentável”, afirma a carta.

O documento também pontua declarações recentes do ministro sobre a violência no campo. O Brasil é o país do mundo onda mais se mata ambientalistas. Mas, de acordo com Maggi, quando você vai no cerne da questão [dos assassinatos], você vai ver que tu tem problema de relacionamento de pessoas de determinados lugares”. A frase, segundo a carta do OC, pode ser comparada “ao negacionismo climático expresso, por vezes, pelo presidente eleito dos EUA, como quando disse o aquecimento global é invenção dos chineses para tornar a indústria americana menos competitiva”.

Após receber a carta, que criticou pelo tom “agressivo”, o ministro disse que receberia o OC em seu gabinete para conversar sobre todos os pontos. Em seguida, fez troça com os assassinatos no campo: “Fico aliviado porque morreram 150 ambientalistas a menos de ontem para hoje. Porque ontem [quarta-feira] disseram que eram 150, hoje são só 50”.

Após o evento, Maggi recebeu dos jovens do Engajamundo um colar de “pérolas mággicas”, em alusão à verborragia que tem demonstrado em Marrakesh.

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