Sociedade glaciológica defende cientista argentino indiciado
Ricardo Villalba, um dos maiores especialistas em glaciares dos Andes, é acusado de favorecer mineradora em inventário de geleiras; para colegas, ele usou critérios técnicos mais estritos que a média mundial em estudo
DO OC – A Sociedade Glaciológica Internacional saiu em defesa do cientista argentino Ricardo Villalba, indiciado por abuso de autoridade pela Justiça da Argentina por supostamente facilitar a atuação da mineradora de ouro canadense Barrick Gold, que se envolveu em um acidente recente que contaminou geleiras da região com cianeto.
Villalba foi denunciado por ambientalistas locais por supostamente ter deixado pequenas geleiras do oeste do país à mercê dos mineradores ao deixar de incluí-las no inventário dos glaciares argentinos que realizava. Ocorre que o glaciologista seguiu padrões internacionais de monitoramento glaciológico e não incluiu no relatório áreas de gelo de tamanho menor do que um hectare. Outros especialistas em geleiras têm afirmado que, na verdade, os critérios usados pelo argentino são mais rigorosos do que em outras partes do mundo. De acordo com nota da Sociedade Glaciológica Internacional, “do ponto de vista científico Villalba está correto e sua posição não pode ser considerada abuso de autoridade”.
A nota destacou que o inventário de geleiras ficaria “degradado” caso fossem incluídas pequenas porções que os satélites raramente conseguem indicar se são neve ou gelo temporário. O texto ainda reforçou a importância dos relatórios regionais, nos padrões atuais, na formulação de políticas na escala global.
O primeiro inventário globalmente completo foi apresentado em 2012 e só foi descrito em artigo científico em 2014. A prática de negligenciar corpos de água congelada menor que 0,01 quilômetro quadrado (um hectare) começou a partir de 1970 e, desde então, segundo a nota, a prática tem sido quase universal, com limiares ainda maiores (0,05, 0,1 ou mesmo 1 quilômetro quadrado), aplicados a várias regiões.
Villalba foi indiciado pelo juiz federal Sebastián Casanello e pode ser condenado pelo acidente causado pela mineradora. O embate começou com a manifestação do grupo de ambientalistas Asamblea Jáchal No Se Toca, da província argentina de San Juan, que acusa Villalba de publicar dados tendenciosos a serviço da mineradora. Segundo o grupo, se fossem incluídas outras porções de gelo no inventário, as operações na bacia hidrográfica teriam sido proibidas.
Corre na internet um abaixo-assinado liderado por cientistas em apoio a Villalba.