Poluição industrial na China. (Foto: Li Fan/National Geographic Creative/Corbis)

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China quer pico de emissões antes de 2030 e propõe aceleração inédita de renováveis

Maior poluidor do planeta apresentou hoje sua proposta para o acordo de Paris; carro-chefe é transição para energias renováveis, que visa atingir 25 vezes Belo Monte em energia solar

30.06.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:26 |

O maior emissor absoluto de gases de efeito estufa do mundo apresentou nesta terça-feira (30) a sua INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) para o acordo do clima de Paris. A China pretende reduzir em até 65% suas emissões de gases de efeito estufa por unidade do PIB até 2030 em relação a 2005. Entre as ações previstas estão o investimento de US$ 6 bilhões para aumentar a capacidade de energia renovável e o aumento da cobertura florestal.

O plano para redução de emissões no setor de energia é o mais detalhado na proposta. A China planeja aumentar sua capacidade instalada de energia eólica para 200GW e de energia solar para cerca de 100 gigawatts (GW), hoje em 95.81GW e 28GW, respectivamente. A parcela de combustíveis não fósseis deve ser ampliada para cerca de 20% em 2030. A China também irá aumentar o seu uso de gás natural, que deverá perfazer 10% do seu consumo de energia primária até 2020.

Alguns dos compromissos anunciados hoje pela China já estavam no acordo bilateral firmado com os Estados Unidos no fim de 2014. Um deles é fixar 2030 como o ano de pico das emissões chinesas, com a intenção de “trabalhar duro” para que ocorra ainda antes. Segundo o Climate Action Tracker, consórcio que avalia as contribuições nacionais, o pico nas emissões chinesas de CO2 deve acontecer antes disso, por volta de 2025. No entanto, outros gases-estufa seguirão aumentando.

O plano foi recebido como um esforço significativo pelo acordo do clima de Paris. “A China tem atuado sempre apenas na defensiva quando se trata de mudança climática, mas o anúncio de hoje é o primeiro passo para um papel mais ativo”, avalia Li Shuo, analista de clima do Greenpeace China. No entanto, Shuo acredita que este é apenas o primeiro passo. “Dada a dramática queda no consumo de carvão, o crescimento de energia renovável, bem como a necessidade urgente de combater a poluição do ar, acreditamos que o país pode ir muito além do que ele propôs hoje.”

Samantha Smith, porta-voz de clima e energia do WWF, avalia que a China, enquanto país em desenvolvimento, tem dado uma contribuição significativa para a redução das emissões de carbono. A ação diz respeito não somente ao compromisso internacional, mas é importante internamente, uma vez que a poluição do ar é uma grave questão de saúde pública na China. “A China assumiu compromissos para além de sua responsabilidade como um país em desenvolvimento. Mas esperamos que continue a encontrar maneiras de reduzir suas emissões, que por sua vez conduzem mercados globais de energia renovável e eficiência energética.”

Mark Lutes, analista sênior de clima do WWF, também reconhece o esforço da China em reduzir a poluição e fazer de fontes renováveis uma alternativa viável à dependência de combustíveis fósseis. “O esforço chinês vai baratear ainda mais estas fontes e a China pode dar exemplo para o mundo”, diz. “Esperamos que as metas que a presidente Dilma anunciou hoje em Washington sejam o primeiro passo de uma tentativa de retomar esta liderança.”

O Climate Action Tracker, no entanto, considera a meta chinesa como “média”. Afinal, um pico em 2030 significa que a China aumentará suas emissões de cerca de 11 bilhões para cerca de 14 bilhões de toneladas de CO2. Só esse aumento equivale a duas vezes tudo o que o Brasil emitiu em 2013. “Isso significa que [a meta] ainda não é consistente com a limitação do aquecimento a menos de 2oC, a menos que outros países façam reduções muito mais profundas e esforços comparativamente maiores que os da China”, afirma o Tracker.

Coreia do Sul

Menos de uma hora depois do registro da meta chinesa, foi a vez de outra potência asiática entregar às Nações Unidas seu plano de ação climática. A INDC da Coreia do Sul estipula uma meta de corte de 37% das emissões em 2030 em relação ao que o país emitiria se nada fosse feito. Trata-se de um “desvio de trajetória”, um compromisso relativo de corte de emissões franqueado aos países em desenvolvimento – apesar de a Coreia do Sul ser tecnicamente um país desenvolvido, membro da OCDE, ela ainda é um país em desenvolvimento do ponto de vista da Convenção do Clima.

Pela meta apresentada, a Coreia chegaria a 2030 emitindo 535 milhões de toneladas de CO2 equivalente ao ano, contra 850 milhões projetados na ausência de mitigação.

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