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Onde houver ameaça, seremos a resistência

Nota do Observatório do Clima sobre a vitória de Jair Bolsonaro

28.10.2018 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

Presidentes recém-eleitos em geral são saudados com uma saudável cobrança para que cumpram o que prometeram em campanha. Mas não no Brasil de 2018: após esta eleição incomum, o Observatório do Clima trabalhará para que o novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, faça o oposto do que prometeu.

O retrocesso civilizatório anunciado e reafirmado por Bolsonaro e vários de seus auxiliares não pode se tornar política de Estado. O presidente eleito deve ser guardião incansável das instituições democráticas e dos direitos humanos. Deve governar para todos os brasileiros. Não vamos, em nenhuma hipótese, normalizar a erosão dos valores da nossa democracia, da nossa cidadania e dos direitos da nossa geração e das futuras. Onde houver ameaça, nós seremos a resistência.

Na área ambiental, lutaremos para que as instâncias de governança sejam fortalecidas, em especial o Ministério do Meio Ambiente e seus órgãos vinculados, bem como para que seja ampliada a política de áreas protegidas, que inclui a criação de unidades de conservação e a demarcação e homologação de terras indígenas.

O Brasil percorreu um longo caminho até a consolidação de um conjunto de instituições e políticas públicas que guardam um patrimônio natural único, base sobre a qual se assenta não apenas a qualidade de vida, mas o próprio desenvolvimento econômico do país. Não nos calaremos diante do desmonte dessas instituições e políticas.

Da mesma forma, perseguiremos de forma incansável o cumprimento das metas do Brasil contra as mudanças climáticas e a ampliação da ambição dessas metas, em linha com os objetivos do Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento global em 1,5oC. Dar as costas ao acordo do clima e a medidas de adaptação a extremos climáticos seria desastroso para o país: do ponto de vista geopolítico, comercial, de desenvolvimento e, sobretudo, da segurança dos cidadãos brasileiros, que o presidente eleito jurou priorizar.

Por fim, resistiremos a qualquer investida contra os povos e comunidades tradicionais, protegidos pela Constituição, bem como a qualquer violência contra ativistas ambientais. O Brasil é o país que mais mata defensores do meio ambiente no mundo – 57 apenas no ano passado – e o clima instaurado na campanha eleitoral, com atentados a agentes do Ibama e ao ICMBio, apenas aumentou o perigo. É tarefa do presidente eleito desarmar essa bomba.

DECLARAÇÕES DE MEMBROS DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA

“As mudanças climáticas afetam principalmente as mulheres, provedoras e cuidadoras do lar. A Amazônia e seu povo precisam ser preservados. Estaremos na luta e na resistência sem cair, sem recuar e sem temer.”

Joci Aguiar, presidente da rede GTA (Grupo de Trabalho Amazônico)

“As propostas feitas por Bolsonaro durante a campanha são graves e estimulam o desmatamento e a violência no campo. Lutaremos incansavelmente para que não seja implementada no país uma agenda destruição ambiental.”

Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace

 

O Brasil tem um histórico de combate às mudanças climáticas desde antes de isso ser uma emergência global. Adotou um programa pioneiro de biocombustíveis já nos anos 1970; nos anos 1990, teve papel fundamental nos acordos internacionais contra a crise do clima e, nos anos 2000, deu uma das maiores contribuições do mundo à mitigação das emissões ao reduzir o desmatamento na Amazônia. Desperdiçar essa liderança seria, além de burrice, um ato antipatriótico.”

André Ferretti, gerente de Estratégias da Conservação da Fundação Grupo Boticário e coordenador-geral do Observatório do Clima

 

“O diferencial da agropecuária brasileira está na valorização dos ativos florestais, na água, na biodiversidade e na riqueza cultural dos nossos povos. Somente quando essa percepção for amplamente incorporada no setor é que daremos um salto importante na direção do desenvolvimento sustentável.”

Marina Piatto, coordenadora de Clima e Agricultura do Imaflora.

 

“As declarações dadas durante a campanha sinalizando que um governo Bolsonaro não cumpriria a obrigação constitucional de demarcar as terras indígenas também têm implicações para a questão climática. A Amazônia brasileira comprova ao mundo o papel que as terras indígenas cumprem na regulação do clima, e é fundamental que o Brasil avance no reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas e das comunidades quilombolas como parte de sua contribuição para o cumprimento do Acordo de Paris. Recuar no reconhecimento dos direitos territoriais desses povos e comunidades seria um retrocesso difícil de explicar ao mundo.”

Adriana Ramos, diretora de Políticas Públicas do Instituto Socioambiental

“Esperamos que o presidente eleito perceba muito rápido o tamanho de sua responsabilidade, que tem que ser infinitamente maior, no discurso e na prática, do que a de um candidato. Caso decida levar adiante aquilo que vem prometendo contra o meio ambiente, os povos indígenas e a agenda de clima, as maiores vítimas serão os brasileiros e o Brasil. Entre 2013 e 2017, mais de 2.700 municípios do país sofreram com secas severas, mais de 1.700 sofreram com alagamentos. Aumentar desmatamento e emissões de gases de efeito estufa é impor a cada um de nós um risco crescente de mais catástrofes climáticas.”

Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima

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