OC deixa Coalizão Brasil
Hora é de dedicar energia à luta contra retrocessos ambientais e à defesa da democracia, diz secretário-executivo
DO OC – O Observatório do Clima se desligou nesta segunda-feira (22) da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, um espaço criado em 2014 para promover o diálogo entre entidades ambientalistas e do agronegócio para o desenvolvimento sustentável.
Em carta enviada aos membros da coalizão, o secretário-executivo do OC, Marcio Astrini, afirma que as mudanças no contexto nacional após a eleição de 2018 exigem que a rede concentre suas energias na defesa do meio ambiente e na resistência aos retrocessos impostos pelo governo atual na agenda climática e socioambiental.
A saída, esclarece Astrini, é apenas do secretariado da rede. As organizações do OC que integram a coalizão permanecerão no fórum se assim o desejarem.
No ano passado, entidades do agronegócio como a Unica (do setor da cana) e a Sociedade Rural Brasileira haviam saído da coalizão, por ordem do ministro do Meio Ambiente.
Leia abaixo a íntegra da mensagem enviada pelo OC à Coalizão Brasil.
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À Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura
Prezados membros da Coalizão,
O Observatório do Clima (OC) é uma rede 50 organizações da sociedade civil. Com 18 anos de existência, nossa missão é defender o meio ambiente e ajudar na construção de uma sociedade mais justa e sustentável, pressionando tomadores de decisão para a implementação de políticas públicas efetivas em relação às mudanças do clima.
Participamos da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura desde seu início e integramos o Grupo Executivo até o ano de 2019. Reconhecemos a importância do diálogo multissetorial na busca e construção de soluções para os problemas socioambientais do Brasil.
Desde a criação da Coalizão, o contexto brasileiro mudou muito. Atualmente enfrentamos ataques inéditos ao meio ambiente, que põem em risco o clima do planeta e décadas de construções e avanços de políticas do setor no Brasil. Os resultados são desastrosos e vão desde o aumento do desmatamento e das emissões nacionais até o incentivo de práticas ilegais e a promoção da violência no campo.
O atual governo ainda enxerga as entidades que atuam na área socioambental, bem como indígenas, quilombolas e outros setores da sociedade, como inimigos que devem ser aniquilados. Os espaços de diálogo com o Poder Executivo foram encerrados, de forma unilateral, pelo próprio governo. Na gestão Bolsonaro, não é apenas a agenda ambiental que corre riscos, mas a própria democracia está sob constante ameaça.
O Observatório do Clima assumiu papel central de resistência a este cenário. Nos dedicaremos à defesa do clima, do ambiente e da democracia de forma contundente e incansável. Sendo assim, é hora do OC deixar a Coalizão e concentrar todas as suas energias nesses eixos de atuação.
Agradecemos pelos momentos de acolhida e pela troca de experiências nestes anos em que fizemos parte deste colegiado.
Respeitosamente,
Marcio Astrini
Secretário-executivo
Observatório do Clima