Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. FOTO: © Victor Moriyama / Amazônia em Chamas

#PRESS RELEASE

Alertas de desmate na Amazônia batem recorde em junho 

Área detectada pelo Inpe chega 1.120 km2, ultrapassando pela terceira vez consecutiva sob Bolsonaro a marca de 1.000 km2 no mês; dados desmontam afirmação de ministro

08.07.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

O desmatamento na Amazônia foi recorde pelo terceiro ano consecutivo em junho. Dados do Inpe divulgados nesta sexta-feira (8/7) mostram que a área de alertas de desmate no mês chegou a 1.120 km2, a maior marca desde 2016, início da série histórica do sistema Deter-B.

É uma alta de 130% em relação a junho de 2018, último ano do governo Temer. Sob Bolsonaro, pela primeira vez os alertas ultrapassaram 1.000 km2 em junho: foram 1.043 em 2020, 1.061 em 2021 e agora 1.120.

No acumulado do ano até aqui (o Inpe sempre mede o desmatamento de agosto de um ano a julho do ano seguinte), os alertas já chegam a 7.104 km2, perdendo apenas por pequena margem para os recordes do próprio regime Bolsonaro no mesmo período de 11 meses (agosto a junho): 7.557 km2 em 2020 e 7.282 km2 em 2021.

Na série de 2022, que se encerra no fim deste mês, houve recorde de desmatamento em outubro, janeiro, fevereiro, abril e agora em junho.

Os dados do Inpe desmontam o argumento do ministro Joaquim Leite, que afirmou em audiência na Câmara nesta quarta (6/7), quando provavelmente já tinha os números de junho, que estaria ocorrendo queda do desmatamento em razão da operação Guardiões do Bioma Amazônia, lançada em março.

Os dois municípios com maior área de alertas em junho foram Apuí (103 km2) e Lábrea (90 km2), ambos no sul do Amazonas. A explosão do desmatamento na região se deve à grilagem, por conta da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcício Freitas, de pavimentar na marra a BR-319 (Manaus-Porto Velho). A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.

Alertas mensais de desmatamento precisam necessariamente ser olhados com cautela por uma série de motivos. O sistema Deter não é feito para medir área desmatada, e sim para orientar o trabalho do Ibama (que, como é sabido, não tem ocorrido de forma efetiva durante o regime Bolsonaro devido ao desmonte do órgão promovido pelo governo). O Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. O dado oficial de desmatamento é informado pelo sistema Prodes, mais lento, porém acurado, uma vez por ano.

Os dados de alertas até o momento indicam, porém, que a taxa de desmatamento em 2022 deverá ultrapassar novamente os 10.000 km2. Em 2021, pela primeira vez desde o início das medições, em 1988, a Amazônia teve o quarto ano seguido de aumento na devastação. A esta altura, ainda não é possível descartar um quinto. Jair Bolsonaro é o primeiro presidente desde a ditadura militar a ver o desmatamento subir em todos os anos de seu mandato.

“Espanto será se o desmatamento não subir de novo em 2022”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Como a tragédia do Vale do Javari deixou explícito para o mundo inteiro, a Amazônia está sob o comando de gente que mata e desmata, com o incentivo de Bolsonaro e seus generais. A destruição faz parte de um projeto de governo implementado com muito afinco, que o próximo Presidente da República terá muito trabalho para reverter.”

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