Bolsonaro faz seu melhor discurso na ONU: o último
Sem pudor de fazer comício na Assembleia Geral, presidente ao menos dá à comunidade internacional o alívio de não precisar mais ouvi-lo
A vulgaridade e as mentiras foram as mesmas de sempre, mas ao menos desta vez Jair Bolsonaro abriu a Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (20), dando uma boa notícia à comunidade internacional: foi provavelmente a última vez que aquela tribuna se viu obrigada a escutar um discurso do líder da extrema-direita brasileira.
Em desvantagem nas pesquisas de opinião, Bolsonaro usou seus cerca de 20 minutos de fala da ONU para fazer palanque, tentando energizar suas bases descrevendo um Brasil de faz-de-conta.
No mundo real, temos 33 milhões de famintos, 11% das mortes por Covid num país que tem 3% da população mundial e a pior crise socioambiental no país desde a redemocratização. Embora governos passados tenham registrado taxas de desmatamento maiores na Amazônia, o regime Bolsonaro foi o único que não apenas não fez nada a respeito como estimulou ativamente o crime ambiental e o massacre de indígenas. Daí ter sido o primeiro governante brasileiro desde o início das medições por satélite a ver o desmatamento subir três vezes seguidas num mesmo mandato.
No Brasil real, as invasões de terras indígenas triplicaram, o número de indígenas assassinados é o maior desde 2003, o desmatamento na Amazônia cresceu 75% em relação à última década e o número de queimadas até meados de setembro de 2022 já é maior do que o de todo o ano de 2021. No Brasil real, investimentos e acordos internacionais empacaram devido ao desmonte da governança ambiental e o país tornou-se um pária em fóruns nos quais era protagonista, como as negociações internacionais de clima.
É desse país que a comunidade internacional se despede nesta terça-feira, com a esperança de que a partir de 2023 o Brasil tenha um novo governo, disposto a cuidar da própria população e a reinserir o país no mundo.
“A única instância internacional que deveria receber Jair Bolsonaro a partir de agora é o Tribunal de Haia, pela sua gestão criminosa da pandemia e pela incitação ao genocídio indígena”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
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