Investimento em transporte público coletivo por ônibus, metrô, VLT e na infraestrutura para bicicletas é caminho para reduzir rapidamente emissões de transportes (Foto: Tomaz Silva/ABr)

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Brasil pode reduzir 80% das emissões por energia mesmo com economia crescendo

Em estudo inédito, Observatório do Clima (OC) traça cenários para futuro do setor energético no país e aponta caminho para a transição justa e abandono gradual de fósseis.

22.10.2024 - Atualizado 21.10.2024 às 20:01 |

Um estudo lançado nesta terça-feira (22/10) sugere que o Brasil poderá chegar a 2050 emitindo cerca de 102 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) no setor de energia, cerca de 80% a menos do que é emitido atualmente, sem recorrer a soluções falsas como captura e armazenamento de carbono (CCS) e sem a necessidade de expandir a produção de combustíveis fósseis.

Por outro lado, caso as tendências atuais para o setor de energia se mantenham – mesmo incluindo compromissos positivos relacionados à produção de biocombustíveis e ao aumento de fontes renováveis –, o setor de energia brasileiro deverá chegar a 2050 emitindo 558 milhões de toneladas de CO2e, número superior ao pico alcançado em meados da década passada. Em 2022, as emissões do setor ficaram em 490,6 milhões de toneladas de CO2e, segundo dados do SEEG/Observatório do Clima.

Esses são os principais resultados do relatório Futuro da Energia: visão do Observatório do Clima para uma transição justa no Brasil. Elaborado pelas organizações que formam parte do Grupo de Trabalho (GT) de Energia do OC, o documento detalha uma proposta para que o Brasil faça nos próximos anos – mas desde já – uma transição energética justa, com metas e compromissos firmes e tecnicamente fundamentados e factíveis, sem ignorar o crescimento da demanda energética em diferentes cenários de crescimento econômico, além das particularidades e desafios de cada atividade analisada.

“Focamos na descarbonização necessária no quadro de crise que se configura no Brasil e no planeta e na justiça climática”, afirma Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do OC. “O relatório mostra que é possível reduzir o uso de combustíveis fósseis mesmo num cenário de crescimento econômico. Com análises técnicas sólidas, demonstra que podemos alterar rotas equivocadas e contribuir no setor de energia para que o Brasil se torne um país carbono negativo até o ano de 2045.”

A rede de organizações do OC propõe diretrizes em áreas como transportes de carga e de passageiros, produção de combustíveis e biocombustíveis, indústria e geração de eletricidade. Também são abordadas questões como as perspectivas para a produção de hidrogênio verde, o fechamento de termelétricas a carvão, o crescimento das fontes eólica e solar e o papel das térmicas a gás fóssil em médio e longo prazos.

Tais diretrizes, apresentadas como Visão do OC, buscam que o Brasil reduza em 92% as emissões líquidas até 2035 em relação aos níveis de 2005, número defendido pelo OC para uma nova proposta brasileira de NDC (meta atualizada para o Acordo de Paris). Isso significaria diminuir as emissões líquidas de gases de efeito estufa de 2,44 bilhões de toneladas de CO2e, cifra de 2005 estimada pelo SEEG, para no máximo 200 milhões de toneladas de CO2e.

Os objetivos também se inserem na Estratégia Brasil 2045, do Observatório do Clima, que defende que o país pode se tornar a primeira grande economia do mundo a sequestrar mais gases de efeito estufa do que emite, tornando-se negativo em carbono até o ano de 2045.

O estudo foi motivado pelo entendimento de que, embora imprescindível, zerar o desmatamento da Amazônia e de outros biomas não é o suficiente para que o Brasil cumpra as metas de Paris. O país larga na frente por conseguir gerar 90% de sua energia elétrica a partir de fontes renováveis, mas ainda assim há um longo trabalho a ser feito nas atividades que mais emitem gases de efeito estufa do setor de energia.

Para que ocorra uma transição justa, o GT de Energia do OC também se debruçou sobre os impactos socioambientais – que já ocorrem – das novas fontes renováveis e da mineração de metais estratégicos, apontando quais salvaguardas e iniciativas de mitigação o poder público deve adotar. Além disso, abordou temas como a reforma do setor elétrico, trouxe diretrizes sobre como superar a pobreza energética e corrigir injustiças, além de apontar os caminhos para melhorar a eficiência energética de diversos setores.

Duas referências de PIB

O trabalho considerou um crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano até 2050, projeção usada para calcular a demanda energética e as emissões de gases de efeito estufa de cada atividade do setor de energia sob as premissas e diretrizes defendidas pelo OC. Foi a partir dessa projeção de crescimento que se chegou à previsão de 102 milhões de toneladas de CO2e emitidos pelo setor de energia em 2050.

O relatório também considerou um cenário de crescimento inferior, de 1,3% ao ano, e superior, de 2,8% ao ano, mostrando como mudariam a demanda energética e as emissões de gases de efeito estufa no país.

Os resultados que seriam alcançados a partir dos compromissos defendidos pelo OC são comparados com os obtidos em um cenário tendencial, que buscou projetar as emissões a partir das tendências para os próximos anos. Para isso, foram analisados os compromissos – positivos ou negativos – assumidos pelo poder público, com foco nos programas do governo federal e nas legislações discutidas no Congresso, além das tendências de mercado e dos planos estratégicos de empresas como a Petrobras.

Considerando um crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano e as diretrizes deste cenário tendencial, o setor de energia chegará em 2050 emitindo 558 milhões de toneladas de CO2e.

Entre as conclusões, cabe ressaltar que o transporte de cargas, majoritariamente rodoviário, continuará sendo a principal atividade emissora do setor de energia. Mesmo considerando as diretrizes propostas pelo OC, a atividade é a que apresenta os maiores desafios por conta das dificuldades de eletrificar caminhões pesados e semipesados, seja pelos custos das baterias e de outros componentes, seja pelas longas distâncias percorridas.

Assim, a redução dessas emissões deverá ser relativamente lenta até 2040, com o aumento do uso de biodiesel, eletrificação parcial, concentrada em caminhões médios e leves, e aumento de eficiência. A partir de 2040, contudo, a redução de emissões deve se acelerar com a maior inserção do diesel verde. Os cálculos indicam que o nível de emissões deve cair de 115 milhões de toneladas de CO2e em 2022, segundo dados do SEEG, para 38 milhões de toneladas em 2050 – isto é, 38% das emissões projetadas para o setor de energia.

A maior oportunidade para reduzir as emissões rapidamente está no transporte de passageiros. As diretrizes do OC vão além da mera substituição da gasolina por etanol nos veículos flex e na gradual eletrificação da frota. Para que essa atividade deixe de emitir 102 milhões de toneladas de CO2e, conforme registrou o SEEG em 2022, e passe a emitir somente 16 milhões de toneladas, como projeta a Visão do OC, é preciso mudar os paradigmas das cidades, que devem ser mais compactas e com deslocamentos menores, e aumentar os investimentos em transporte público coletivo por ônibus, metrô, VLT e na infraestrutura para o uso das bicicletas em detrimento dos automóveis individuais.

Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 119 integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática (oc.eco.br). Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil (seeg.eco.br).

Informações para imprensa 

Solange A. Barreira – Observatório do Clima

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Claudio Angelo – Observatório do Clima

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