Incêndio florestal na Colúmbia Britânica, no oeste canadense, em 2023 (Foto: Missão Humanitária Brasileira)

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Canadá mantém seca e altas temperaturas após incêndios recordes

Último inverno foi o mais quente da história do país e fortaleceu "fogo zumbi" no subsolo

07.06.2024 - Atualizado 13.06.2024 às 14:25 |

DO OC – Há um ano o céu de Nova York, nos Estados Unidos, era dominado pela fumaça dos incêndios florestais que se espalharam pelo Canadá. Autoridades pediram para a população não ficar nas ruas por causa da poluição. No mês anterior, maio, a fumaça havia atravessado o Canadá, o segundo maior país em extensão territorial do mundo, e alcançado o Ártico. O fogo, intensificado pelas altas temperaturas e tempo seco, destruiu aproximadamente 17,3 milhões de hectares da vegetação canadense no ano passado, na pior temporada de incêndios da história do país. É como se quase todo o Uruguai tivesse  queimado. Um ano depois, os incêndios florestais estão mais tímidos do que no ano passado. 

De janeiro ao fim de maio de 2024, 425,5 mil hectares foram queimados, mostra relatório do departamento de recursos naturais do governo canadense. A média de 10 anos para esta época é de 430,9 mil hectares. Segundo o Centro Canadense de Incêndios Florestais Interagências (CIFFC, na sigla em inglês), as chuvas em algumas regiões limitaram o fogo. O dado, no entanto, não permite que os canadenses comemorem. Temperaturas anormais, secas persistentes em parte do país e incertezas sobre como será o verão cercam o país.

Estudos mostraram a relação dos incêndios de 2023 com as mudanças climáticas. Um deles, com foco na província de Québec, concluiu que as mudanças climáticas pioraram as queimadas do ano passado. Outro artigo afirmou que a temperatura média de maio a outubro de 2023 foi 2,2 °C mais quente comparada com o período de 1991 a 2020 no Canadá. 

Fogos zumbis

O último inverno canadense foi 5,2 °C mais quente desde que o país começou a fazer registros em 1948. Em algumas províncias, caso da petroleira Alberta, a anomalia alcançou 5,5 °C. A organização americana Climate Central analisou o período de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024 e concluiu que o calor anormal no planeta foi cinco vezes mais provável pela influência das alterações climáticas em um mês ou mais.

O tempo quente favoreceu os fogos zumbis, incêndios que continuam no subsolo mesmo que haja neve. Remanescentes das queimadas de 2023, os zumbis são comuns no Canadá, mas não em grande número. Em fevereiro, Alberta e a Colúmbia Britânica tinham mais de 150 zumbis ativos. “Nós já vimos isso antes, mas nunca nessa escala. Tenho acompanhado o fogo no Canadá e no exterior desde o fim dos anos 1970, mas nunca vi nada assim”, disse Mike Flannigan, especialista em incêndios florestais e professor da Universidade Thompson Rivers, na Colúmbia Britânica, ao jornal The Washington Post no início do ano.

No dia 20 de fevereiro, Alberta, no oeste canadense, declarou antecipadamente o início da temporada de incêndios. Naquele dia, a província disse que estava monitorando os incêndios remanescentes de 2023. Um dos citados, o de Basset, ocupava 234 mil hectares. Nesta sexta-feira (7), o painel de incêndios florestais de Alberta contabilizava 24 queimadas ativas, 14 delas são frutos dos zumbis. Alberta ocupa a terceira posição com o maior número de focos de incêndio no momento. Québec, na segunda posição com 27 incêndios ativos, diz não ter registrado focos de fogo no inverno, o que é contestado por imagens de satélite, diz reportagem da CBC.

Yan Boulanger, pesquisador do Serviço Florestal Canadense, explica que é difícil saber a dimensão dos fogos zumbis em todo o país, pois não existe uma base de dados nacional para registro histórico. No entanto, afirma que, certamente, a área queimada por incêndios remanescentes neste ano no Canadá é “substancial” até agora. “No início de março, Alberta reportava 57 incêndios remanescentes e a Colúmbia Britânica, 90. Não significa que todos esses incêndios tenham queimado áreas significativas este ano, mas alguns deles queimaram várias dezenas de milhares de hectares, especialmente na Colúmbia Britânica”, comenta.

A Colúmbia Britânica é a província em pior situação no momento. Com 29 incêndios ativos – não é citado quantos cresceram de focos do ano passado –, a província tem áreas na categoria 2, quando os recursos conseguem atender a demanda de fogo, e categoria 3, quando há uma maior possibilidade de aumento de incêndios e os recursos locais poderão ser insuficientes para enfrentar o problema. Dois incêndios possuem notas, o que significa que eles são altamente visíveis ou representam uma ameaça potencial à segurança pública. Houve ainda emissão de alertas para evacuação.  

Foram os incêndios em Alberta e Colúmbia Britânica, inclusive, que mandaram mais fumaça para os Estados Unidos no mês passado, dessa vez para os estados de Montana e Wisconsin.

Tempos secos

Um relatório publicado em 13 de maio diz que cerca de 61% do Canadá, excluindo Nunavut, território onde a estiagem não é avaliada, estava enfrentando algum tipo de seca neste ano. Áreas da Colúmbia Britânica, Alberta e Territórios do Noroeste permaneciam em níveis graves e extremos de seca. O documento, “Avaliação e Perspectivas de Incêndios Sazonais na América do Norte”, foi produzido por órgãos do Canadá, Estados Unidos e México, países que também enfrentam temperaturas anormais, estiagens e incêndios.

A publicação também indicou que é provável que as temperaturas fiquem acima da média na maior parte do Canadá em junho e julho. A seca deve persistir ao menos em junho em grande parte do país, apesar da possibilidade de chover mais na região do Atlântico. 

A informação é reforçada por Yan Boulanger. O pesquisador aponta  que o Serviço Florestal Canadense está prevendo condições acima ou muito acima do normal para condições climáticas propícias a incêndios na maior parte do país até agosto. “Na verdade, praticamente todos os modelos sazonais projetam condições quentes a muito quentes em grande parte para o Canadá neste verão. Isso não significa que haverá muitos incêndios destrutivos. Há incertezas nestas previsões, especialmente no que diz respeito à precipitação”, diz. (PRISCILA PACHECO)



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