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CO2 estabiliza, mas conta do clima cresce

Relatório do Pnuma mostra que emissões seguem subindo apesar de estabilização do gás carbônico no setor de energia e que esforço para cumprir Paris terá de ser 25% maior e começar antes de 2020

03.11.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

DO OC

A boa notícia do novo relatório da ONU sobre gases de efeito estufa é que, em 2015, as emissões globais por uso de combustíveis fósseis parecem ter estagnado pela primeira vez. A má notícia é que acabaram as boas.

O Gap Report, publicação do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) que todos os anos nos lembra quão distantes nós estamos de obter segurança climática neste século, saiu na manhã desta quinta-feira (3). Ele traz uma série de mensagens indigestas para os líderes mundiais que se preparam para comemorar a entrada em vigor do Acordo de Paris no dia seguinte (4) e aos negociadores que fazem as malas para a conferência do clima de Marrakesh, a COP22, na segunda-feira (7).

A principal dessas mensagens é que, ainda que todas as metas dos países em Paris sejam cumpridas, o mundo ruma para um aquecimento de 2,9oC a 3,4oC neste século. Para cumprir o objetivo do acordo do clima de estabilizar a temperatura em bem menos de 2oC, precisaríamos cortar pelo menos mais 12 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera da Terra em 2030 em relação às propostas que estão na mesa. Isso equivale a desligar uma China e um Canadá.

Para ficar dentro do limite de 1,5oC, única temperatura que em tese ainda possibilita a existência das pequenas nações insulares, seria preciso cortar 15 bilhões de toneladas a mais, ou uma China e dois Brasis.

Mesmo assim, e mesmo com esse esforço, a melhor chance que a humanidade ainda tem de atingir 1,5oC é de cerca de 50%. Nenhum dos modelos climáticos analisados considera que tenhamos mais de dois terços de chance de estabilizar a temperatura em 1,5oC, e virtualmente todos eles implicam que o aquecimento ultrapassará essa marca para depois voltar a ela no fim do século – fenômeno conhecido como overshoot.

Segundo o relatório, as emissões em 2030 chegariam a 56 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, valor que poderia cair para 54 bilhões caso todas as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) que estão condicionadas a financiamento externo obtivessem esses recursos – algo que tampouco está acontecendo hoje.

O nível de emissão consistente com pelo menos 66% de chance de 2oC é 42 bilhões de toneladas; com pelo menos 50% de chance de 1,5oC, 39 bilhões. Embora as emissões por uso de energia tenham estabilizado em 2015, o relatório diz que é cedo demais para saber se isso é uma tendência e, no restante da economia global, elas continuam crescendo.

Para evitar que o mundo perca para sempre o rumo dos 2oC, o relatório sugere um único caminho: aumentar radicalmente o esforço de corte de emissões até 2020. Há tecnologia disponível para isso, diz o Pnuma, especialmente no setor de eficiência energética.

As metas para 2020, definidas em Copenhague em 2009 e adotadas em Cancún no ano seguinte, incluem uma série de compromissos voluntários dos países ricos e emergentes. Boa parte dos membros do G20, que respondem pela maioria das emissões de carbono do mundo, foram avaliados pelo relatório como estando no caminho de cumprir essas metas.

O Brasil foi considerado como estando no rumo do cumprimento. No entanto, a recente alta no desmatamento da Amazônia em 2015 – que, ao que tudo indica, se repetirá em 2016 – desviou o país da principal meta setorial, a de redução em 80% da destruição da floresta.

A promessa nacional, de 36,1% a 38,9% de redução em 2020 em relação à tendência, deverá ser cumprida, mas por uma razão meramente matemática: a meta considerava um crescimento do PIB de 4% ao ano até 2020, mas a economia encolheu em vez disso.

“É preciso ressaltar que, coletivamente, essas metas não são ambiciosas o bastante para dar um ponto de partida melhor em 2020 para atingir os níveis de emissões em 2030 consistentes com os objetivos de longo prazo de menos de 2oC ou 1,5oC”, afirma o documento do Pnuma.

O relatório sugere que os países não esperem pela avaliação convocada pela Convenção do Clima para 2018 dos compromissos coletivos para turbinar a ação.

“É provável que a última chance de manter aberta a opção de limitar o aquecimento global a 1,5oC em 2100 (…) implique que as emissões de gases de efeito estufa cheguem ao pico antes de 2020.”

“Se não começarmos a adotar ações adicionais agora, a começar do encontro climático que está para se iniciar em Marrakesh, vamos nos lamentar pela tragédia humana evitável”, disse em comunicado o secretário-executivo do Pnuma, Eric Solheim.

Atualizado às 10h48; corrige informação sobre temperatura no terceiro parágrafo (3,4 e não 3,7 graus).

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