Comunicado ministerial do G7 só tem ambição no tamanho
Países mais ricos falham novamente em oferecer liderança no enfrentamento da crise do clima
CLAUDIO ANGELO
COORDENADOR DE POLÍTICA INTERNACIONAL DO OC
O comunicado dos ministros do G7 sobre clima e energia limitou sua ambição ao tamanho do texto: são 35 páginas, nas quais a urgência declarada em relação à crise climática não encontra correspondência nos compromissos do bloco.
A principal novidade anunciada, a eliminação do carvão mineral “não mitigado” nos sistemas energéticos, ficou para algum momento da década que vem, quando a ciência nos diz que ela deveria acontecer nesta década se estivermos falando sério sobre estabilizar o aquecimento da Terra a 1,5oC em relação à era pré-industrial.
No tema central da transição energética, o G7 parece querer fugir para a frente, ao reforçar o papel de soluções falsas como gás fóssil e tecnologias de captura e armazenamento de carbono, que essencialmente permitem à indústria fóssil das nações ricas continuar operando como se houvesse amanhã.
A linguagem que esses países tentaram – e não conseguiram – inserir no texto da decisão da COP28, em Dubai, sobre combustíveis fósseis “unabated”, ou seja, não mitigados, aparece nada menos do que 17 vezes no comunicado ministerial do G7. O documento dá à Agência Internacional de Energia a tarefa de desenvolver até 2025 uma série de recomendações para que os países ricos possam (só então) construir os mapas do caminho para a eliminação dos combustíveis fósseis, o que não parece combinar com a determinação da COP28 de iniciar “nesta década crítica” a saída das fontes sujas.
No financiamento climático, tema central dos esforços de negociação deste ano, o G7 não oferece nada além de platitudes: admite a dívida dos países ricos com os pobres, compreende a necessidade de mobilizar “trilhões” e de não aumentar a dívida das nações em desenvolvimento. Mas, em ano eleitoral em vários países do bloco, não apenas não oferece soluções, como insiste nos velhos mantras de “aumentar a base de doadores” para incluir a China, de mobilizar capital privado e, agora, de pedir ao mundo em desenvolvimento que “aumente a mobilização de recursos domésticos”.
Em suma, como reza o chiste, é um comunicado que contém coisas novas e boas. Só que as boas não são novas e as novas não são boas.