Queimada em área desmatada em Mato Grosso (Foto: OC)

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Desmatamento em alta: é bom já ir se acostumando

23.11.2018 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

Nota do Observatório do Clima sobre os números do Prodes 2018

A elevação de quase 14% na taxa de desmatamento da Amazônia, segundo estimativa preliminar do Inpe divulgada nesta sexta-feira (23), não é uma surpresa. Quem acompanha os dados mensais, divulgados governo federal e pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), sabia que uma elevação estava a caminho.
Ela acontece apesar dos esforços do Ministério do Meio Ambiente de intensificar o combate aos crimes ambientais na Amazônia. É provavelmente fruto de uma série de circunstâncias climáticas e cambiais – o dólar alto eleva os preços dos produtos agrícolas e estimula a devastação. Mas é inegável o peso do fator político no resultado colhido pelo governo Temer em sua despedida.
Ao longo do último ano, o Palácio do Planalto e governos estaduais fizeram uma série de acenos à bancada ruralista, como a anistia à grilagem de terras, assinada pelo Presidente da República em julho de 2017 (pouco antes de começar a contagem dos dados de 2018). Neste ano, de eleição, alguns Estados passaram a cooperar menos com o Ibama na fiscalização, inclusive perdoando garimpeiros após um ataque a uma base do Ibama no Amazonas. A expectativa de anistia é o quanto basta para que as quadrilhas que atuam na extração de madeira e na grilagem de terras acelerarem a predação sobre a floresta, e foi isso o que se verificou.
Esse quadro tende a ser o novo normal nos próximos anos. Com a eleição de Jair Bolsonaro, a bancada ruralista chegou ao poder. O presidente eleito prometeu durante a campanha desmontar os controles ambientais no Brasil e é isso o que está acontecendo neste exato momento: a equipe de transição, com ruralistas na liderança, esfacela as atribuições do Ministério do Meio Ambiente mesmo sem formalmente extingui-lo. Cenários extremos projetados por cientistas brasileiros indicam que o desmatamento – e as emissões de gases de efeito estufa dele resultantes – pode triplicar na Amazônia, retornando aos patamares do início do século, caso o novo governo cumpra suas ameaças. Mesmo que o pior não aconteça, a tendência para os próximos anos é de mais devastação, mais violência no campo, mais poluição e menos eficiência na produção de commodities na Amazônia. É bom já ir se acostumando.

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