Siderúrgicas em Benxi, China: velha economia está ficando para trás (Foto: Andreas Habich)

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Emissão fica estagnada pelo 3º ano seguido

Indicação preliminar é da Agência Internacional de Energia; mas políticas de Donald Trump podem ajudar a reverter esse quadro favorável para a descarbonização da economia

17.03.2017 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

CLAUDIO ANGELO
DO OC

Enfim uma boa notícia na área de clima para animar a sexta-feira: as emissões de gases de efeito estufa no setor de energia ficaram estagnadas pelo terceiro ano consecutivo em 2016. E isso apesar do crescimento de 3,1% que a economia do mundo (sorry, Brasil) teve no ano passado.

Os dados, ainda preliminares, foram divulgados na manhã desta sexta (17) pela Agência Internacional de Energia. Como vem fazendo desde 2015, a agência não soltou um estudo detalhando os números – deverá fazê-lo nos próximos meses, quando lançar seu relatório anual World Energy Outlook.

Segundo a AIE, as emissões do setor de energia permaneceram em 32,1 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente, essencialmente idênticas às de 2015 e 2014. Isso resultou, ainda de acordo com a agência, de um crescimento na geração de eletricidade por fontes renováveis e energia nuclear, da substituição de carvão mineral por gás natural e de mudanças estruturais na economia.

A maior queda ocorreu nos EUA, que no último ano de governo Obama viram sua economia crescer 1,6% e suas emissões caírem 3%. Foi o menor nível de emissões do país desde 1992.

Na terra do gás de folhelho, a demanda por carvão mineral para gerar eletricidade caiu 11% no ano passado. O gás natural, que é fóssil, mas polui muito menos que o carvão, ultrapassou este combustível pela primeira vez na geração de energia elétrica.

Na China, a queda de emissões foi aparentemente menos impressionante que nos EUA: 1%. Mas só aparentemente: considere que o crescimento econômico chinês foi de 6,7% no ano passado, e que a China oficialmente só esperava ver suas emissões caírem após 2030.

Segundo a AIE, a tendência no gigante asiático se explica também pela troca de carvão por gás, na esteira de políticas do governo de redução da poluição do ar – o chamado “ar-pocalipse” chinês. Dois terços do aumento da demanda por eletricidade no país foram supridos por renováveis e por energia nuclear; cinco novos reatores entraram em operação na China em 2016.

“Estes três anos de emissões estagnadas numa economia global que cresce são sinal de uma tendência emergente que certamente é razão para otimismo, mesmo que ainda seja cedo demais para dizer que as emissões definitivamente chegaram ao pico”, disse em comunicado o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol.

Ele tem motivos para temperar o otimismo. Afinal, como mostrou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mesmo com as emissões de energia estagnadas, as emissões totais do planeta em 2015 cresceram, devido ao desmatamento e à agropecuária. No que depender por exemplo do Brasil, que aumentou o desmatamento na Amazônia em 29% em 2016, essa tendência permanecerá quando forem compilados todos os dados do ano passado.

O metano, segundo gás de efeito estufa mais importante, também está em ascensão no mundo, por razões que os cientistas até agora não entendem muito bem. Isso contrabalança em parte a desaceleração nas emissões de dióxido de carbono.

E há, claro, Donald Trump.

Nesta semana o fascista-em-chefe dos Estados Unidos fez dois movimentos que vão no sentido contrário da descarbonização que as próprias forças de mercado estão se encarregando de operar em seu país.

Na quarta-feira, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, ora chefiada pelo negacionista do clima Scott Pruitt, confirmou que vai rever as regras de eficiência de motores para carros leves e caminhonetes propostas pelo governo Obama para o período 2022-2025. O movimento seguiu-se a pressão das montadoras sobre a Casa Branca – a indústria considera “desafiadora demais” a meta de elevar a eficiência mínima de um motor para 19 km/l em 2025, em comparação com os atuais 12,8 km/l.

“A necessidade ambiental desses padrões é vital e inquestionável”, afirmou em nota crítica ao anúncio o ICCT (Conselho Internacional para o Transporte Limpo). A entidade lembrou que o setor de transportes é a maior fonte de emissões de CO2 dos EUA hoje, e que o ímpeto de inovação gerado pela regulação é crucial para reduzir emissões no setor. “Qualquer coisa que ponha os padrões de 2025 em risco traz também o risco de que os EUA se tornem um retardatário novamente, com implicações claras para a competitividade das empresas baseadas nos EUA”, prosseguiu o ICCT.

Gráfico da União dos Cientistas Responsáveis mostra emissões futuras dos EUA com (azul) e sem (vermelho) regulações que Trump quer eliminar

Gráfico da União dos Cientistas Responsáveis mostra emissões futuras dos EUA com (azul) e sem (vermelho) regulações que Trump quer eliminar

Mas Trump não parou por aí: na quinta-feira, o presidente mandou ao Congresso sua proposta de Orçamento da União. A peça, que ainda precisa ser aprovada pelo Parlamento (e dificilmente passará pelos democratas), prevê um aumento de 54% nos gastos militares, às expensas de outras áreas do governo. Surpresa zero, o setor que terá o maior corte proporcional é o ambiental: a EPA perde 31% de sua verba e terá 3.200 funcionários demitidos.

O Plano de Energia Limpa de Obama, hoje executado pela EPA, será descontinuado, o que segundo analistas inviabilizará o cumprimento da meta americana no Acordo de Paris, de cortar 26% a 28% de suas emissões até 2025.

“O efeito será o de aumentar em bilhões de toneladas as emissões de gases de efeito estufa”, escreveu Ken Kimmell, presidente da ONG UCS (União dos Cientistas Responsáveis) sobre as medidas de Trump.

Segundo a UCS, o efeito da eliminação do Plano de Energia Limpa e da revisão dos padrões de eficiência veicular – que economizariam 500 milhões de toneladas de CO2 em 2025 – será um aumento líquido de 9% nas emissões americanas em relação aos níveis de hoje em 2030. No acumulado, 2,5 bilhões de toneladas seriam emitidas a mais nos próximos 13 anos.

O secretário de Orçamento, Mick Mulvaney, justificou os cortes na área de mudanças clima, dizendo que pesquisa climática é “desperdício de dinheiro”.

Programas gerenciamento costeiro da Noaa e de observação da Terra da Nasa também serão descontinuados.

No caso da agência espacial, a prioridade passa a ser a exploração de outros planetas do Sistema Solar – algo que certamente será necessário caso Trump continue se empenhando para que a Terra não tenha futuro viável.

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