Sob Bolsonaro, as Força Armadas adotaram o lema "Desintegrar para não entregar" (Foto: montagem a partir do Flickr/FAB)

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Frustrados por não conquistarem soberania, militares anunciam saída da Amazônia

"Perdemos a guerra, floresta já está sendo internacionalizada na forma de fumaça", diz general do alto comando

01.04.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

DO OC – “É preciso ter coragem de se olhar no espelho e encarar a verdade. Nós perdemos a luta pela soberania nacional.” A frase, surpreendente, foi dita nesta manhã (1/4) pelo ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional do governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno, durante coletiva de imprensa realizada na sauna do Clube Militar de Anápolis (GO). Famoso por comandar uma etapa da missão de paz no Haiti – missão essa que resultou em mais de 50 mil mortos por cólera, e que terminou, depois de 13 anos, com o país ainda mais pobre -, Heleno determinou o fechamento gradual de todos os batalhões na região Norte e a desmobilização de seus efetivos. “Todo militar precisa entender o momento de recolher as armas. Senhores, selva!”, complementou. “Quer dizer, jardinzinho sintético.”

A coletiva contou com a presença da chamada tropa de elite dos generais empijamados. Um deles, o general de divisão Mauro Antunes Mateiro, admitiu que a Amazônia já foi amplamente internacionalizada. “Vinte por cento do bioma já virou fumaça. Esse gás carbônico e essa fuligem foram para a atmosfera e hoje fazem parte do ar do mundo inteiro. Não conseguimos manter a posse do Brasil”, disse o general Mateiro, com um muxoxo. “Perdemos a guerra.” 

Ex-vice presidente e ex-responsável por coordenar as ações militares na Amazônia durante o governo Bolsonaro, o senador de quatro estrelas Hamilton Mourão foi pragmático “Bom dia!”, vociferou, para em seguida explicar: “Em termos técnicos, manter a soberania nacional significa manter o controle total sobre o território. Mas fica difícil defender isso quando se sabe que uma cidade como Tabatinga, no Amazonas, funciona como a segunda maior entrada de drogas no país.” Localizada na tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia, Tabatinga conta com um batalhão do Exército e um enorme efetivo militar- que praticamente não foi acionado durante as buscas ao jornalista Dom Phillips e ao indigenista Bruno Pereira, assassinados em 2022 por criminosos empoderados pelo bolsonarismo.

A notícia da saída dos militares da Amazônia foi muito bem recebida não só pelos setores progressistas, mas também pelo mercado, dado que o Exército torrou mais de R$ 500 milhões em operações para distribuir panfletos a desmatadores pela região durante o governo Bolsonaro. O investimento não impediu que mais de 20 mil garimpeiros invadissem a Terra Indígena Yanomami, causando um crime humanitário que , ou que a Amazônia se tornasse o maior foco de expansão do crime organizado no país. Tampouco impediu que o desmatamento na região aumentasse 59% nos últimos quatro anos – período em que Ibama, ICMBio, Funai e Polícia Federal foram “cupinizados” pela máquina de destruição bolsonarista, e que o Exército foi a única instituição federal que continuou funcionando a pleno vapor.

Ex-ministro de Minas e Energias do governo Bolsonaro – e transportador internacional de joias nas horas vagas -, o almirante Bento Albuquerque acrescentou que não fazia mais sentido falar em soberania nacional depois que seu antigo chefe tentou confiar o monitoramento da Amazônia a um sujeito que é estrangeiro, bilionário e megalômano (no caso, Elon Musk, aquele que prometeu “dar golpe em quem for” para garantir minérios estratégicos para as baterias de seus carros elétricos).

O fim da luta pela soberania da Amazônia servirá também para que as Forças Armadas façam um revisionismo histórico em relação à região. Pelo menos esse foi o anúncio feito pelo ex-ministro da Defesa, da Casa Civil e ex-chefe do Centro de Coordenação das Operações do Comitê de Crise da Covid-19 (posto que lhe rendeu um indiciamento na CPI da Covid-19), o general da reserva Walter Braga Netto. “A propaganda da Ditadura sempre se referiu à floresta como o ‘inferno verde’, o que não é um termo adequado, já que verde é uma cor associada ao Exército e aos patriotas”, explicou. “O mais adequado é ‘inferno vermelho’, até porque só tem ONG petista naquele lugar.” Fontes ligadas ao Exército indicam que a nova nomenclatura deve ser mantida até a próxima tentativa de golpe.

O Departamento de Marketing do Exército também prometeu revisar o slogan dos tempos da Redentora. “Para comemorar o aniversário da Revolução Redentora ocorrida ontem, decidimos baixar uma ordem do dia alterando o slogan ‘Integrar para não entregar’. Depois de quatro anos do nosso governo, achamos que o mais adequado seria ‘Desintegrar para não entregar’. Mas nem isso funcionou. Selva!”, afirma a nota oficial. 

Procurado pela reportagem, o atual ministro da Defesa e general à paisana José Múcio explicou que o país não corre nenhum risco de golpe, assim como já havia afirmado, de forma peremptória, no dia 7 de janeiro.

 

Cumprindo a tradição milenar do Observatório do Clima desta data, todas as informações deste texto são falsas. Exceto as que não são.

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