Lula cobra ricos na ONU e diz que reduzir desigualdade é “agenda-síntese”
Aplaudido ao anunciar redução do desmatamento, presidente ignora fim dos combustíveis fósseis, pedido por António Guterres
DO OC – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu nesta terça-feira (19/9) a 78ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, e dedicou boa parte de seu discurso à agenda climática e ambiental. Lula cobrou o financiamento climático prometido por países ricos (US$ 600 bilhões até 2025) e destacou ações de seu governo, como o Plano de Transformação Ecológica e a retomada de uma “robusta e renovada” agenda amazônica.
No entanto, ignorou a necessidade de pôr fim à exploração de combustíveis fósseis, uma das contradições que colocam em risco os compromissos verdes de seu governo. Amanhã, na Cúpula da Ambição convocada pelo secretário-geral António Guterres, Lula deve anunciar a correção da “pedalada climática” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na meta brasileira de redução de emissões. A correção foi aprovada por resolução do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima na semana passada.
A fala de Lula não trouxe grandes surpresas e seguiu a linha dos últimos discursos internacionais do presidente. A redução da desigualdade foi defendida como “objetivo-síntese” para Agenda 2030 da ONU, que, em sua avaliação, está ameaçada. “A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 2030 – pode se transformar no seu maior fracasso. Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas”, disse, e propôs: “Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030”.
Ao tratar da emergência climática, o presidente destacou também a necessidade de enfrentamento às desigualdades e bateu na velha tecla dos países em desenvolvimento de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, lembrando que as nações ricas são as maiores responsáveis históricas pela emissão de gases de efeito estufa, enquanto as populações vulneráveis do Sul Global são as mais afetadas por suas consequências.
A isso, emendou mais uma cobrança dos compromissos de financiamento ainda não cumpridos. “Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade. A promessa de destinar 100 bilhões de dólares – anualmente – para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa”, afirmou. Ao anunciar a queda de 48% no desmatamento da Amazônia nos oito primeiros meses de seu governo (na comparação com o mesmo período do ano passado), o presidente brasileiro foi interrompido por aplausos.
Ausentes na fala de Lula, os fósseis apareceram no discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres. Depois de afirmar que as mudanças climáticas estão matando pessoas e devastando comunidades, e lembrar que isso “é só o começo”, o português instou as maiores economias do mundo a agirem com rapidez: “Os países do G20 devem liderar, acabar com seu vício em combustíveis fósseis, parar o carvão e atentar ao aviso da Agência Internacional de Energia de que novos projetos de óleo e gás são incompatíveis com 1.5ºC”, declarou.
O presidente colombiano Gustavo Petro também voltou a defender uma economia sem carvão, petróleo e gás. “É preciso financiar um capitalismo descarbonizado. O capital verde se desenvolverá somente onde se tem ambição”, disse. O colombiano foi enfático ao dizer que os combustíveis fósseis precisam permanecer no solo.
Petro ainda repetiu que os países endividados precisam ter dívidas reduzidas para que possam investir na mitigação e adaptação climática. Para o colombiano, o sistema financeiro necessita de uma reforma, além de ser urgente a existência de um Plano Marshall para que os países do Sul Global tenham verba para enfrentar as mudanças do clima. (LEILA SALIM E PRISCILA PACHECO)