Prefeitura de Porto Alegre a esquerda e o Mercado Municipal a direita, alagados, após chuva intensa no início de maio. (Gilvan Rocha/Agência Brasil)

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Mudanças climáticas intensificaram chuvas no Rio Grande do Sul, diz estudo

Análise também aponta papel do El Niño, da derrubada de vegetação e da desigualdade social no agravamento da tragédia

03.06.2024 - Atualizado 11.06.2024 às 16:12 |

DO OC – As fortes chuvas que inundaram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e maio se tornaram pelo menos duas vezes mais prováveis por conta das mudanças climáticas, diz estudo lançado nesta segunda-feira (3) pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês). O grupo formado por 13 pesquisadores também concluiu que as alterações do clima deixaram as chuvas entre 6% e 9% mais intensas no estado.

Para avaliar o efeito do desequilíbrio do clima nas chuvas, os pesquisadores analisaram dados meteorológicos e modelos climáticos com foco na região Sul para comparar a influência do clima atual, aproximadamente 1,2 °C mais quente desde o fim do século 19, com o clima passado, seguindo métodos revisados por pares. De acordo com a equipe, sem o aquecimento global catalisado por ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis, o evento que deixou o Rio Grande do Sul debaixo da água seria mais raro. 

“Este estudo de atribuição confirma que as atividades humanas contribuíram para eventos extremos mais intensos e frequentes, destacando a vulnerabilidade do país às alterações climáticas. É essencial que os tomadores de decisões e a sociedade reconheçam isso”, diz Lincoln Alves, integrante do grupo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O grupo também concluiu que o fenômeno natural El Niño, que deixa o oceano pacífico mais aquecido, contribuiu para a ocorrência de precipitações. “É muito comum que haja enchentes no Sul em anos de El Niño. Os formadores de políticas públicas parecem não terem entendido isso”, disse Regina Rodrigues, co-autora do estudo e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), durante entrevista coletiva nesta manhã. A pesquisadora ainda lembrou que o estado enfrentou secas extremas entre 2020 e início de 2023 por causa da influência do fenômeno La Niña, o que gera impacto nos períodos de chuvas. “Quando vem a chuva, o solo está seco para absorver a água”, explica. No ano passado, o Rio Grande do Sul enfrentou inundações no segundo semestre.

Outro fator destacado por Rodrigues é o desmatamento local. “As mudanças no uso da terra contribuíram diretamente para as inundações generalizadas ao eliminar a proteção natural. Além disso, podem exacerbar as alterações climáticas por aumentar as emissões”, comenta.

O artigo destaca que a catástrofe foi reforçada pela desigualdade social, a falta de infraestrutura adaptada para um cenário de crise climática e a existência de sistemas de alertas sem plano de coordenação para orientar a população. É lembrado que o sistema para conter enchentes em Porto Alegre entrou em operação nos anos 1970 e foi feito com base nas enchentes das décadas de 1940 e 1960. “A incapacidade de manter plenamente o sistema existente, juntamente com investimento e planejamento inadequados, deixou Porto Alegre e a Região Metropolitana vulneráveis a futuras inundações”, diz o artigo. 

Maja Vahlberg, co-autora do estudo e consultora de risco climático do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, ressaltou a urgência da implementação de políticas que deixem a população menos vulnerável, que aumentem a proteção contra inundações e a restauração dos ecossistemas naturais para amortecer o impacto das fortes chuvas. “São algumas formas pelas quais os governos podem evitar mortes e limitar os danos causados por estes eventos”, diz.

Segundo boletim atualizado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (3), 172 mortes foram confirmadas, 42 pessoas seguem desaparecidas, mais de 579,4 mil estão desalojadas e 37,1 seguem em abrigos. (PRISCILA PACHECO)





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