Mudanças climáticas turbinaram 41 dias de calor extremo em 2024
Temperaturas adicionaram riscos à saúde e causaram “sofrimento implacável”, dizem cientistas, que instam países a se prepararem para 2025
DO OC – Relatório lançado nesta sexta-feira (27) mostrou que as mudanças climáticas adicionaram 41 dias de calor extremo e perigoso para a saúde humana ao planeta em 2024. A análise mostrou que mesmo em um ano de temperaturas incrementadas por fenômenos naturais como o El Niño, foi o aquecimento antropogênico (ou seja, resultante de atividades humanas que emitem gases de efeito estufa, e não de causas naturais) o principal causador de eventos climáticos extremos.
O levantamento foi feito em parceria pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês) e pelo coletivo Climate Central. Dos 29 eventos extremos de 2024 analisados pela WWA, 26 foram intensificados pelas mudanças climáticas e causaram a morte de ao menos 3.700 pessoas, deixando milhões desalojadas. Os 29 eventos estudados pela rede são apenas uma pequena amostra: a WWA identificou 219 episódios climáticos de grande impacto ao longo do ano, que podem ter matado até centenas de milhares de pessoas.
“Este ano, de eventos extremos fora da curva, mostra o quão perigosa a vida já se tornou com 1,3ºC de aquecimento induzido por atividades humanas, e destaca a urgência de se deixar os combustíveis fósseis responsáveis pelo aquecimento do planeta para trás o mais rápido possível”, diz o relatório, cujo título sugestivo é “Quando riscos viram realidade: o clima extremo em 2024”, em tradução livre.
Entre os eventos extremos agravados pelas mudanças climáticas, estão a seca histórica na Amazônia e as queimadas no Pantanal. A WWA mostrou que a ocorrência da seca na maior floresta tropical do mundo foi 30 vezes mais provável por conta da crise do clima. Já no Pantanal, as condições de tempo quente, seco e ventoso que permitiu as queimadas intensas em junho foram 40% mais intensas por conta das mudanças climáticas.
“A Amazônia é crucial para a estabilidade do clima global, mas o aquecimento causado pelas atividades humanas está empurrando a floresta para um clima mais seco, o que pode causar a morte em massa de árvores e a liberação de grandes quantidades de CO2 na atmosfera”, diz o relatório.
“As secas na Bacia Amazônica estão se tornando mais frequentes e severas por causa da mudança do clima. Tememos que elas possam empurrar a floresta para um estado mais seco, levando à redução dos fluxos de umidade e dos sumidouros de carbono, assim como induzindo a perda de biodiversidade”, comentou a pesquisadora Regina Rodrigues, professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
As enchentes no Sudão, na Nigéria, no Níger, em Camarões e no Chade foram as mais mortais analisadas, deixando ao menos duas mil vítimas fatais e milhões de desalojados. O relatório destaca que a crise do clima expõe cada vez mais pessoas a temperaturas perigosas por mais tempo ao longo do ano, apontando que, se o mundo não abandonar rapidamente o petróleo, o gás e o carvão, o número de dias quentes por ano continuará a aumentar, colocando em risco a saúde pública e os ecossistemas.
Os cientistas reafirmaram que os países precisam agir imediatamente e apresentaram quatro resoluções urgentes para enfrentar a mudança do clima e proteger a população global em 2025. A primeira delas, sem surpresas, é a transição energética imediata, que afaste as fontes fósseis.
Além disso, destacam os autores, é preciso melhorar os sistemas de alertas precoces para eventos extremos, ampliar a vigilância em tempo real de mortes por calor extremo e garantir o financiamento internacional para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem às mudanças climáticas.
“Os impactos do aquecimento induzido pelos combustíveis fósseis nunca estiveram tão claros e tão devastadores como em 2024. O clima extremo matou milhares de pessoas, desalojou milhões e causou sofrimento implacável neste ano. As enchentes na Espanha, os furacões nos Estados Unidos, as secas na Amazônia e enchentes em toda a África são apenas alguns exemplos”, afirmou Friederike Otto, diretora da WWA e pesquisadora sênior em ciência climática do Imperial College London. (LEILA SALIM)