Na newsletter: Sertanista conta como tirou 40 mil garimpeiros da TI Yanomami
Sydney Possuelo, que liderou demarcação em 1991, diz que desmonte do garimpo foi feito só com Funai e PF, sem militares
O sertanista Sydney Possuelo, 82, que presidiu a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) entre 1991 e 1993, disse ao Observatório do Clima que retirou 40 mil garimpeiros da Terra Indígena Yanomami em 1991, ano de sua demarcação, sem precisar acionar as Forças Armadas. A retirada dos invasores (chamada de “desintrusão”) foi feita apenas por agentes da Funai e da Polícia Federal.
“Não houve a participação do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou Polícia Militar, qualquer coisa. Os homens que foram a campo atrás de garimpeiros eram os sertanistas da Funai e a PF”, afirmou Possuelo nesta quinta-feira (2), ao lembrar a operação de desintrusão.
No mesmo dia, reportagem do jornal Valor Econômico afirmou que a operação de retirada dos cerca de 20 mil garimpeiros que hoje ocupam o território yanomami e provocaram uma tragédia humanitária deve enfrentar percalços, porque precisará ser precedida de um “diagnóstico das Forças Armadas”. Segundo a reportagem, que não nomeia fontes, mas dá a entender que são próximas do ministro José Múcio (Defesa), “a impressão que se tem é que a retirada é mais complexa do que pode parecer”. Coloca-se como óbices, por exemplo, o “respaldo popular do garimpo” em Roraima e a postura pró-garimpo da bancada do Estado no Congresso.
Possuelo afirma que, na década de 1990, a retirada foi feita com um avião cargueiro Buffalo e dois helicópteros da Força Aérea, além de sete aviões da Funai. “Essas aeronaves a FAB não cedia, nós pagamos as horas voadas. Não foi um auxílio que veio, foi um trabalho pago.” Os garimpeiros foram levados todos para Boa Vista.
O então Ministério do Exército, lembra o sertanista, jogou contra a operação, alegando que a demarcação de uma terra indígena de 9,6 milhões de hectares na faixa de fronteira trazia riscos à soberania nacional. Uma teoria da conspiração corrente entre os militares, e que até hoje persiste na caserna, era que a demarcação seria a ponta de lança da decretação de um Estado independente na terra indígena, de onde os minérios seriam então saqueados por países estrangeiros. Um jornal de Roraima chegou a publicar na época que Possuelo seria feito rei desse país.
Depois de 30 anos da homologação, os yanomami não decretaram independência e a careca precoce que Possuelo ostenta há décadas ainda não foi adornada com uma coroa. Mas o pensamento militar segue inalterado. “O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério”, disse o ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro em outubro de 2019.
A retirada dos garimpeiros e a posterior demarcação da terra indígena só aconteceram por causa do apoio do então Presidente da República, Fernando Collor de Mello, hoje aliado de Bolsonaro.
“O Collor estava realmente decidido. Não sei as motivações, não me interessava. Eu só queria aproveitar a vontade do presidente e sabia que isso passa rápido”, recorda-se Possuelo.
O Instituto Socioambiental publicou um conjunto de perguntas e respostas muito completo sobre a situação na terra yanomami e os responsáveis por ela.
DEGRADAÇÃO ATINGE 38% DAS FLORESTAS DA AMAZÔNIA
Um estudo publicado por mais de 30 cientistas na revista Science sugere que 38% da área da Amazônia já foi atingida por algum tipo de degradação. Embora estejam de pé, essas florestas já foram atingidas por incêndios, extração de madeira, ressecamento das bordas ou estiagens, e não mantêm mais as mesmas funções ecossistêmicas e a mesma capacidade de regeneração de uma floresta intacta, como o OC explicou.
O novo dado é mais um a implodir a ladainha de que 66% do território nacional está “completamente intacto”, como o Ministério da Agricultura afirmou num tuíte na semana passada, por meio da Secretaria de Comunicação da Presidência. O dado distorcido tem sua origem no pesquisador aposentado da Embrapa Evaristo de Miranda e era papagaiado pelo governo Bolsonaro na tentativa de negar a crise ambiental brasileira.
PRESIDENTE INTERINO DO IBAMA REVERTE BOIADA MASTER DE EDUARDO BIM
O presidente interino do Ibama, Jair Schmitt, começou a reverter na última quinta-feira (2) o programa “punição zero” criado por Ricardo Salles e Eduardo Bim no órgão ambiental. Schmitt revogou dois despachos de Bim que deixariam prescrever bilhões de reais em multas ambientais (apenas um deles faria o Ibama abrir mão de R$ 3,6 bilhões em favor de infratores). Também criou um grupo de trabalho para rever todas as decisões administrativas de Bim que impactaram o chamado processo sancionador, pelo qual o Ibama aplica e cobra multas. A destruição do processo sancionador, questionada no STF, foi um dos instrumentos usados por Salles e Bim para destruir a credibilidade do órgão, empoderando desmatadores e outros criminosos ambientais, que passaram a ter segurança da impunidade. Rubens Valente traz a notícia em sua coluna na Agência Pública.
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