Coral-de-fogo ("Millepora alcicornis") branqueado em Pernambuco (Foto: Thales Vidal/Projeto PELD-TAMS/UFP/Cepene ICMbio)

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Nova epidemia de branqueamento já atinge corais no Brasil 

Seis de sete áreas monitoradas estão sob alerta; situação é mais grave em Maracajaú e Todos os Santos, no Nordeste, com risco de mortalidade de recifes

18.03.2024 - Atualizado 25.03.2024 às 11:14 |

DO OC – Os corais brasileiros enfrentam mais uma onda de branqueamento devido ao aquecimento anormal do mar neste ano. Dados compilados pelo Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa), apontam que, de sete áreas de recifes brasileiros monitoradas, seis estão com algum tipo de alerta de branqueamento neste mês.

Maracajaú, no Rio Grande do Norte, e Todos os Santos, na Bahia,  já apresentam alerta de nível 2, o que significa que há um risco de branqueamento em todo o recife com mortalidade de corais sensíveis ao calor. Nas duas regiões, a temperatura da superfície do mar alcança 30°C, conforme mostram os gráficos abaixo. A temperatura está acima da média histórica para março.

 

 

Maracajaú também teve alerta 2 entre março e maio de 2020, enquanto Todos os Santos emitiu o mesmo alerta em abril de 2022, em março e abril de 2020, de março a maio de 2019 e em abril e maio de 2016.

“O que a gente tem agora são eventos de anomalias térmicas fortes, duradouros e frequentes. E em um cenário em que a gente observa recordes [de temperatura] batidos”, comenta Beatrice Padovani, oceanógrafa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O branqueamento ocorre quando a água permanece aquecida de forma anormal para o ambiente com frequência, o que faz com que as algas chamadas zooxantelas, que vivem em simbiose com os corais, se desapeguem deles. São elas que contribuem para a coloração e a alimentação das colônias.

Segundo a Noaa, o mundo terá neste ano a quarta pandemia de branqueamento, que deverá atingir todo o hemisfério Sul. A Grande Barreira de Coral da Austrália, considerada o maior organismo vivo do mundo, também já está branqueando. Fenômenos globais aconteceram em anos de El Niño: 1997/98, 2010 e 2016/17. Mas surtos locais de branqueamento vêm ocorrendo no Brasil com mais frequência.

Apresentaram alerta de nível 1, risco de branqueamento em todo o recife, Fernando de Noronha, Costa dos Corais, Abrolhos e Trindade e Martins Vaz, já avançando pelo Sudeste do Brasil. Todos tiveram algum tipo de alerta de branqueamento nos últimos anos. A Costa dos Corais, por exemplo, teve alertas de nível 1 e 2 em 2019 e 2020. Em 2017 e 2022, houve alertas somente de nível 1. As imagens abaixo mostram o branqueamento atual identificado na região de Tamandaré (Pernambuco), que faz parte da Costa dos Corais.

“[Os recifes de coral] são ecossistemas sensíveis a essas anomalias. E o que eles estão nos dando é um alerta importante do que está acontecendo com a temperatura na terra e no mar. E tem mil outros: epidemia de dengue é um alerta, tragédias de grandes enchentes. São vários alertas que trazem um cenário superpreocupante”, diz Padovani. Neste ano, somente a área de Búzios não apresentou alertas 1 ou 2.

As diferentes espécies de corais, no entanto, não branqueiam ao mesmo tempo. “Existe uma heterogeneidade. É nela que está a esperança de como vamos trabalhar essa resiliência, essa recuperação. Isso porque existe um processo dinâmico dos corais”, diz Padovani.

As estruturas dos corais saudáveis são importantes para outras espécies marinhas, como peixes. A beleza das cores atrai turistas. Portanto, perder corais prejudica a pesca e o turismo. Os recifes de coral também vivem em associação com vários outros ecossistemas costeiros. Casos dos manguezais, que são importantes para a absorção de carbono, e das restingas, que “seguram” as dunas, a areia. “Então, tem todo um contexto que se desequilibra [por causa do impacto negativo contra os corais]”, ressalta a pesquisadora.

Padovani explica que os corais também sofrem com toda a pressão da poluição marinha. “É como foi na pandemia de Covid-19, qualquer fragilidade na saúde poderia agravar os efeitos da doença. Para os recifes de coral é a mesma coisa. Quando esse tipo de crise chega em um ambiente impactado onde os peixes não estão saudáveis, onde a água do mar tem matéria orgânica [como esgoto], fica mais difícil para os corais se recuperarem”, diz. (PRISCILA PACHECO)

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