Ato pelo clima na Alemanha (Foto: Mika Baumeister/Unsplash)

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Países ricos têm metas climáticas fracas e agravam aquecimento

Entre os maiores emissores do mundo, Estados Unidos, União Europeia, Japão e Austrália devem aumentar rapidamente as ambições climáticas

14.11.2024 - Atualizado 22.11.2024 às 13:00 |

DO OC – Uma análise anual publicada pelo consórcio Climate Action Tracker (CAT) nesta quinta-feira (14) mostra que, desde 2021, o mundo não foi capaz de controlar a curva do aquecimento global previsto para 2100 . As políticas atuais adotadas pelos países podem levar o planeta a um aquecimento de 2,7 °C. Países ricos – poluidores históricos e com melhores condições financeiras para combater as mudanças climáticas – têm reduzido suas emissões, mas de maneira insuficiente para conter o aumento da temperatura.

Em 2015, ano do Acordo de Paris, o consórcio estimou que as políticas da época levariam a um aquecimento de 3,6 °C até o fim do século. Com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês, que representam as metas climáticas de cada país), o aumento da temperatura seria de 2,7 °C. Seis anos depois, em 2021, as estimativas do CAT diminuíram para 2,7 °C sob as políticas em vigor e 2,1 °C com a implementação das NDCs.

Segundo o CAT, a ausência de mudanças nas projeções nos últimos três anos evidencia uma desconexão crítica entre a realidade das mudanças climáticas e a urgência que os governos estão dando às políticas necessárias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A estimativa de 2,7 °C é apontada com 50% de certeza. Ainda há uma probabilidade de 33% de que o aumento seja de 3 °C ou mais e 10% de que alcance 3,6 °C ou mais — “um nível absolutamente catastrófico de aquecimento”, diz Sofia Gonzales-Zuniga, autora principal da análise e integrante da Climate Analytics.

A análise destaca os sete maiores emissores do mundo (China, Estados Unidos, Índia, União Europeia, Indonésia, Japão e Austrália – considerando as emissões sem contar desmatamento e outras mudanças no uso da terra), além da Troika — grupo dos países presidentes das conferências do clima de 2023 (Emirados Árabes Unidos), 2024 (Azerbaijão) e 2025 (Brasil). Essas dez regiões foram responsáveis por 63% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2022, sendo que os sete primeiros produziram 60% das emissões. Segundo os autores, essas nações precisam demonstrar liderança internacional para impulsionar a ação climática. O documento também inclui informações sobre outros países, como Canadá, Alemanha, Reino Unido, Noruega, México, Argentina e Arábia Saudita.

Nesse contexto, as nações ricas precisam, além de apresentar e implementar metas climáticas mais ambiciosas e rápidas, contribuir para o financiamento de ações em países em desenvolvimento. “Os países desenvolvidos precisam continuar a complementar suas ações internas com apoio financeiro significativo e outras formas de suporte aos países em desenvolvimento para constituir uma contribuição justa para o limite de 1,5°C”, disse Ana Missirliu, uma das autoras da análise e integrante do NewClimate Institute. “Muitos países em desenvolvimento só conseguirão alcançar ações climáticas suficientes com apoio financeiro significativo e outras formas de suporte. A COP29 é o momento em que precisamos ver esse compromisso financeiro”, completou.

Os Estados Unidos, segundo maior emissor de gases de efeito estufa e o maior produtor de petróleo do mundo, têm adotado medidas para reduzir suas emissões. A implementação da Lei de Redução da Inflação, sancionada pelo presidente Joe Biden, é um exemplo, com reduções principalmente no setor de energia. De acordo com o CAT, as emissões dos Estados Unidos em 2035, excluindo o uso da terra, mudança do uso da terra e silvicultura (LULUCF, na sigla em inglês), poderão estar entre 33% e 50% abaixo dos níveis de 2005. No entanto, o ideal seria que o país reduzisse as emissões em 70% (excluindo LULUCF) ou 80% (incluindo LULUCF).

“Embora esteja fazendo progressos, os EUA não atingirão sua meta climática doméstica sem medidas adicionais substanciais de redução de emissões”, afirma o relatório. Além disso, a eleição do republicano Donald Trump deve dificultar o avanço do país nas políticas climáticas internas. Ainda é incerto o tamanho do impacto do retorno de Trump à presidência dos Estados Unidos, mas uma estimativa inicial do CAT indica que um desmonte ambiental da gestão Trump pode acrescentar 0,04 °C ao aquecimento projetado de 2,7 °C até 2100.

O consórcio também considera um impacto indireto, ainda não quantificado, caso uma nova saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris estimule outros países a desacelerar ou interromper ações climáticas. Além disso, os Estados Unidos têm resistido a reduzir a produção de petróleo e gás, algo que Trump já indicou que não pretende abandonar. O plano é expandir a produção ainda mais.

No caso da União Europeia, as emissões precisam estar 78% abaixo dos níveis de 1990 em todos os setores até 2035 (incluindo LULUCF). Entretanto, as projeções com as políticas atuais apontam uma redução entre 49% e 59%. Segundo a análise, o bloco defende a eliminação global dos combustíveis fósseis, mas ainda falha em estabelecer metas claras para a eliminação interna.

O Japão também mantém políticas incompatíveis com o limite de aquecimento global, apesar de as emissões estarem caindo. O ideal seria uma meta de redução de 81% (incluindo LULUCF) ou 78% (excluindo LULUCF) até 2035 em relação aos níveis de 2013. O consórcio aponta que a mais recente estratégia de descarbonização do governo japonês não estabelece metas concretas de redução de emissões, mas prioriza tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS, na sigla em inglês) e o conceito de “carvão limpo” — “um oxímoro que serve para ocultar a contínua dependência do combustível fóssil mais poluente”, diz a publicação. “A expansão de energia renovável continua em segundo plano”, completa.

Para a Austrália, as projeções indicam que as emissões (excluindo LULUCF) em 2035 estarão 33% abaixo dos níveis de 2005, sendo que deveriam estar pelo menos 59% menores para limitar o aquecimento global. A Austrália é outro país que apoia a indústria de combustíveis fósseis. Recentemente, o governo australiano aprovou várias extensões de minas de carvão e incorporou o gás fóssil à matriz energética doméstica e às exportações.

De acordo com o CAT, se os países não aumentarem substancialmente a ambição das metas e ações atuais para 2030, limitar o aquecimento global a 1,5 °C não será possível. A falta de ambição e de velocidade nas ações pode levar a um desvio prolongado desse limite, mesmo que seguidas por medidas fortes após 2030 e pela remoção em larga escala de CO₂ da atmosfera. “Chegamos a um ponto crítico, e a COP29 é nossa última chance de manter a meta de 1,5°C viável”, diz a análise. (PRISCILA PACHECO)

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