Famílias tiveram casas alagadas e perderam pertences em Belford Roxo, RJ. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Perda já “contratada” pela crise do clima chega a 19% da renda global, diz estudo

Retração anual em renda projetada para 2050 considera o que já foi emitido até hoje; perdas são seis vezes maiores que custos de mitigação para meta de 2ºC

17.04.2024 - Atualizado 23.04.2024 às 12:06 |

DO OC – Mesmo que, a partir de hoje, os países parem as emissões de gases de efeito estufa, a economia mundial chegará ao meio deste século amargando perdas anuais de 19% (ou US$ 38 trilhões, quase 20 vezes o PIB do Brasil), na comparação com um cenário sem efeitos das mudanças climáticas. O Brasil está entre os países mais afetados, com perdas que superarão os 25% nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Os dados são de um estudo publicado nesta quarta-feira (17) na revista Nature, que calculou as perdas econômicas em renda per capita considerando aquilo que já está “contratado” pelas emissões ocorridas até aqui.  “Fortes reduções de renda estão projetadas para a maioria das regiões, incluindo América do Norte e Europa, com o Sul da Ásia e a África sendo os mais afetados. Isso é causado pelo impacto das mudanças climáticas em diversos aspectos relevantes para o crescimento econômico, como rendimentos agrícolas, produtividade do trabalho ou infraestrutura”, afirmou Maximilian Kotz, do PIK (Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam), na Alemanha, autor principal do estudo.

A pesquisa projetou as consequências regionais do aumento da temperatura e mudanças nos regimes de chuvas. Os cientistas analisaram  dados de mais de 1.600 regiões do mundo nos últimos quarenta anos e aplicaram uma metodologia que permite a identificação da persistência dos danos econômicos, para além das perdas imediatas relativas a eventos extremos específicos.

Os resultados indicam, ainda, que o montante perdido é seis vezes maior do que os gastos necessários ao longo desses 26 anos para conter o aquecimento do planeta em 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. O comprometimento da renda agravará desigualdades regionais e tende a se intensificar depois de 2050 caso não haja corte significativo e acelerado nas emissões.

“Esses danos de curto prazo são resultado de nossas emissões passadas. Precisaremos de mais esforços de adaptação se quisermos evitar pelo menos alguns deles. E precisamos reduzir drasticamente e imediatamente nossas emissões. Caso contrário, as perdas econômicas serão ainda maiores na segunda metade do século, chegando a até 60% em média global até 2100. Isso mostra claramente que proteger nosso clima é muito mais barato do que não fazê-lo. E isso sem mencionar impactos não econômicos, como perda de vida ou biodiversidade”, afirmou Leonie Wenz, do Institute on Global Commons and Climate Change de Berlim, Alemanha, também autora do estudo.

Mudanças na renda per capita causadas por mudança climática. Os tons em vermelho indicam perdas e em azul, ganhos. Brasil está entre os mais afetados (Fonte: Nature)

 

 

Apesar de mostrar que a mudança do clima impactará, até 2050, também as grandes economias – os autores citam o seu próprio país, a Alemanha, mas também a França e os Estados Unidos como exemplo –, o estudo destaca que serão os países mais pobres, que menos contribuíram com o aquecimento global, os mais afetados. Os impactos econômicos serão um vetor de aprofundamento de desigualdades regionais, degradando a renda principalmente nos países tropicais.

A figura acima  ilustra as disparidades. O Brasil, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste, concentra perdas expressivas, acima dos 25%. Em parte do Nordeste (compreendendo os estados do Ceará, Piauí e Maranhão) e no Sudeste (exceto Rio de Janeiro), as perdas projetadas são de 20 a 25%. Na região Sul, no Rio de Janeiro e demais estados do Nordeste (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) os danos ficarão na faixa dos 10% aos 20%.

Na América do Norte e Europa as reduções de renda são projetadas em aproximadamente 11%. Já no Sul da Ásia e na África, a queda será de 22%, apontam os dados. Apenas regiões em latitudes muito altas serão pontualmente beneficiadas.

“Os países menos responsáveis pelas mudanças climáticas sofrerão perdas de renda 60% maiores do que os países de renda mais alta e 40% maiores do que os países mais emissores”, comparou Anders Levermann, também do PIK e co-autor do estudo. “Cabe a nós decidir: uma mudança estrutural em direção a um sistema de energia renovável é necessária para nossa segurança e nos economizará dinheiro. Permanecer no caminho em que estamos atualmente levará a consequências catastróficas. A temperatura do planeta só pode ser estabilizada se pararmos de queimar petróleo, gás e carvão”, defende. (LEILA SALIM)

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