Quarentena deixou Terra (um pouquinho) mais quente, diz estudo
Efeito foi temporário e resultou da redução da poluição por aerossóis
DO OC – Quando a pandemia deixou as pessoas trancadas em casa, no primeiro semestre do ano passado, o mundo assistiu maravilhado a um efeito colateral positivo: a redução da poluição do ar. A internet fervilhou com imagens de cidades ao redor do globo, de São Paulo a Jacarta, de Los Angeles a Nova Déli, que voltaram a ver o horizonte depois de muitos anos. O alívio para os pulmões dos terráqueos, porém, cobrou um preço para o clima. A Terra ficou mais quente por alguns meses.
O achado, contraintuitivo, foi publicado nesta semana por um grupo de pesquisadores dos EUA e do Reino Unido. Eles concluíram que, no outono de 2020 (primavera no hemisfério Norte), as temperaturas em algumas regiões do planeta ficaram de 0,1oC a 0,3oC mais altas do que seriam na ausência de quarentena. Em alguns lugares, como os EUA e a Rússia, o aquecimento adicional foi ainda maior: 0,37oC. No mundo todo, o efeito foi bem discreto: 0,03oC a mais.
Isso aconteceu porque a fumaça de motores e indústrias joga no ar muitas coisas além de gás carbônico. E algumas delas ajudam a resfriar o planeta. Aerossóis resultantes da queima de combustíveis, especialmente, rebatem de volta ao espaço parte da radiação solar, impedindo que ela chegue à superfície e esquente a Terra. Portanto, mesmo que a quantidade de CO2 emitida pela humanidade tenha caído em 2020 (cerca de 7%), a quantidade de aerossóis também caiu. E o efeito “protetor” da poluição foi reduzido.
Isso não significa, claro, que a solução para o aquecimento global seja poluir mais. Afinal, poluição do ar mata centenas de milhares de pessoas todos os anos. “As emissões de aerossóis têm enormes ramificações para a saúde”, disse Andrew Gettelman, do Ncar (Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica), no Colorado (EUA). Ele é coautor do estudo, publicado na revista Geophysical Research Letters.
Para descobrir quanto a redução na poluição esquentou o globo, Gettelman e seus colegas usaram dois modelos climáticos computacionais, um americano e um europeu. Eles alimentaram os modelos com as condições meteorológicas de 2020 e as emissões de aerossóis estimadas nos meses de quarentena mais rigorosa no hemisfério Norte (onde está a maior parte das emissões do mundo).
Segundo um comunicado da Associação Geológica Americana, que edita o periódico, essa abordagem permitiu detectar variações de temperatura tão discretas que não poderiam ser capturadas pelas observações, dada a grande variabilidade da meteorologia. O efeito foi mais perceptível de abril a junho.
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