Renováveis derrubam em 60% custo de neutralizar emissões dos EUA
DO OC- A promessa feita na última quarta-feira pelo presidente Joe Biden – de zerar as emissões líquidas de carbono do país até 2050 – pode ser mais facilmente alcançada do que se imaginava. Se em 2015 o custo estimado para implementar o projeto de reduzir em 80% as emissões até 2050 era de 1% do PIB americano, hoje o custo estimado para chegar a 100% de descarbonização caiu 60%, para 0,4% do PIB. As conclusões são de um estudo publicado nesta semana na revista AGU Advances, que aponta ainda que para o país chegar a emissões negativas (remover mais carbono do que emite) de 500 milhões de toneladas em meados do século, o valor seria de 0,6% do PIB.
“Ficamos agradavelmente surpresos com o fato de o custo da transformação ser menor agora do que em estudos semelhantes que fizemos cinco anos atrás, embora este (o estudo atual) tenha como meta uma redução de carbono muito mais ambiciosa”, disse Margaret Torn, cientista sênior do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley e uma das autoras da pesquisa. O que levou a essa redução nos valores foi a diminuição drástica do custo da energia solar e eólica: “Até pouco tempo não estava clara qual seria forma mais em conta de geração de eletricidade, mas os estudos recentes indicam que a aposta deve ser nas energias limpas”, explica James Williams, que liderou o estudo,.
Os pesquisadores analisaram vários caminhos para alcançar o objetivo de zerar as emissões dos setores de energia e indústria (responsáveis por quase metade das emissões do país) a um baixo custo. Concluíram que o mais eficiente e barato seria um cenário com cerca de 80% da geração de energia proveniente de sol e vento, com uma reserva de geração térmica para segurança.
Um sistema de energia primária 100% renovável era viável, mas tinha custo e uso do solo mais elevados. Para concretizar esse cenário, o estudo indica a necessidade da implementação de quatro estratégias básicas: eficiência energética, eletricidade descarbonizada, eletrificação (processo de fazer uma máquina ou sistema operar usando eletricidade no lugar de outras fontes de energia) e captura de carbono. Entre as medidas concretas que devem ser adotadas nas próximas décadas estão: expandir a capacidade de geração de energia renovável em 3,5 vezes, eliminar a geração de energia por carvão, manter a capacidade existente de geração de gás e aumentar e a venda de veículos elétricos.
Essas ações, ainda que direcionadas à reestruturação dos setores de energia e indústria, impactariam diretamente o setor de transportes, que hoje responde por 29% das emissões do país: “Neste caso, a solução é principalmente a eletrificação do transporte, substituindo os veículos à base de combustíveis fósseis como gasolina e diesel por aqueles que se movem com eletricidade de baixo carbono”, explica Williams. Para tal, o pesquisador alerta que ações governamentais são fundamentais: “A equipe de Biden deve promover ações para conseguir que 50% das vendas de automóveis novos sejam elétricos até 2030. Tornar esses veículos acessíveis para comunidades de baixa renda é uma prioridade”, alerta.
Essas mudanças, no entanto, não significam a “aposentadoria precoce” dos veículos e maquinários já existentes, mas sim um investimento para que os novos equipamentos estejam prontos e disponíveis quando chegar a hora de substituir os antigos. Os custos econômicos dos cenários projetados pelos pesquisadores são quase exclusivamente custos de capital da construção de uma nova infraestrutura. Mas Torn aponta que, no balanço entre custo e benefício, há um lado econômico positivo nesses gastos. “Toda essa infraestrutura construída equivale a empregos nos EUA, gerando renda para o país ao invés de enviar dinheiro para o exterior para comprar petróleo”, diz a pesquisadora. Os valores dos custos seriam ainda mais baixos se os cálculos incluíssem os benefícios ambientais da descarbonização, como a redução de secas e furacões, a melhora na qualidade do ar, redução da demanda do sistema de saúde, entre outros.
Sobre os custos para manter as novas estruturas, a previsão também é boa. A estimativa dos pesquisadores é que os gastos com a geração de energia prioritariamente renovável podem reduzir significativamente se comparados com os atuais. Uma série histórica de 1970 até agora aponta que o país tem gastado entre 5,5% e 13% do PIB anual no setor energético. Com as mudanças propostas, o valor pode cair para 4,3%. (JAQUELINE SORDI)