Salles enfim cai, mas quem manda ainda é Bolsonaro
Enrolado na Justiça, antiministro já vai tarde, mas antipolítica ambiental que tornou o Brasil um perigo para o mundo não apenas não muda, como é agora agravada pela ação do Congresso
NOTA DA COORDENAÇÃO DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA
Após dois anos e meio desmontando a governança ambiental no Brasil, Ricardo de Aquino Salles finalmente pediu demissão do cargo de ministro do Meio Ambiente, que ele jamais deveria ter ocupado.
Salles sai da pasta como entrou: enrolado na Justiça. O homem que fora condenado por fraude ambiental dez dias antes de ser feito ministro por Jair Bolsonaro e que é investigado por enriquecimento ilícito agora tem contra si dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Num deles Salles é suspeito de nove crimes.
O agora ex-antiministro do Meio Ambiente deixa um legado sombrio: dois anos de desmatamento em alta, dois recordes sucessivos de queimadas na Amazônia, 26% do Pantanal carbonizado, omissão diante do maior derramamento de óleo da história do Brasil, emissões de carbono em alta e a imagem internacional do país na lama. Para não dizer que só destruiu tudo, Salles acrescentou uma expressão ao léxico do português brasileiro: “boiada” como sinônimo de destruição ambiental.
Embora seja evidentemente um grande dia para o meio ambiente no Brasil, é preciso lembrar que Salles foi sintoma e não doença. Apenas cumpriu com extrema eficiência os objetivos declarados de Jair Bolsonaro de fechar na prática o Ministério do Meio Ambiente e “meter a foice” nos órgãos ambientais. A política ambiental do atual regime, ditada pelo Presidente da República, não mudará com a troca de seu executor – como não mudaram a Educação, a Cultura e a Saúde. Enquanto Jair Bolsonaro estiver no cargo, com aliados como Arthur Lira para passar a boiada no Congresso, o meio ambiente e os povos indígenas não terão um dia sequer de paz. Seguiremos sendo um pária internacional e um risco climático planetário.
Que a Justiça ao menos dê a Ricardo Salles o que ele merece.