Seca na Europa pode ser a maior em 500 anos
Projeção é de pesquisador da Comissão Europeia; quase metade do continente está sob “aviso” e outros 17% em “alerta”, o mais alto nível de preocupação para a seca
DO OC – Agravada pelo aquecimento global, a seca que atinge a Europa tende a se intensificar e pode ser a pior em 500 anos, afirmou na última terça (9) Andrea Toreti, pesquisador sênior do Joint Research Centre (JRC), da Comissão Europeia. Em entrevista coletiva online, o pesquisador apontou que a escassez de chuvas e ondas de calor que se avizinham podem piorar o cenário atual, que vem causando incêndios, falta de água potável, atingindo safras inteiras da agricultura e secando rios navegáveis.
O JRC compila dados para o Observatório Europeu da Seca (EDO, na sigla em inglês), que, em sua última atualização, informou que 47% da Europa está sob “aviso”, o segundo grau numa escala de 1 a 3, e outros 17% sob “alerta”, o grau máximo de preocupação. O “aviso” se aplica às áreas nas quais a seca extrema provoca grave falta de umidade no solo. Já o “alerta” se refere às áreas em que a vegetação já está sendo afetada e, em alguns casos, morrendo, com safras atingidas. Para produzir seus relatórios, o EDO usa diferentes bases de dados, como imagens de satélites, análises do solo e medições de precipitação.
“A seca na Europa é uma das piores em 500 anos, e tem sido intensificada pela mudança climática causada por ação humana”, disse hoje em tweet Peter Gleick, membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Na coletiva da última terça, Andrea Toreti destacou, em resposta ao SkyNews, que a projeção sobre a severidade da seca ainda precisa passar por estudos completos, mas que, de acordo com sua experiência, os indicativos são de que a seca deste ano será ainda mais grave do que a ocorrida em 2018, quando “condições favoráveis incomuns” protegeram uma parte da Europa. Em 2022, segundo ele, a maior parte do território europeu está exposta às ondas de calor e ao clima seco.
Peter Carter, diretor do Climate Emergency Institute e membro do IPCC, o painel do clima da ONU, segue na mesma direção. Ele publicou ontem em seu twitter um mapa mostrando a situação atual da seca na Europa e apresentando a projeção de seus efeitos em três meses, a partir do anúncio de Toreti.
Como destacou reportagem do Washington Post, o outono e o inverno já haviam sido secos na Europa, contribuindo para a escassez de água. E as ondas de calor ocorridas no verão europeu até agora — intensificadas pela mudança climática causada por ação humana — contribuíram para que essa água secasse. No caso do Reino Unido, que registrou as temperaturas mais altas de sua história em julho, um estudo de atribuição da World Weather Attribution (WWA) mostrou que a onda de calor foi pelo menos dez vezes mais provável por causa da crise climática. A imagem abaixo, do Copernicus, Programa de Observação da Terra da União Européia, foi capturada ontem (10) e mostra os efeitos da seca no Reino Unido, com uma grande área amarronzada.
A França viveu o mês de julho mais seco desde 1959, com uma taxa de precipitação cerca de 85% abaixo da média, segundo o serviço meteorológico do país, Météo-France. A imagem abaixo compara a região de Lyon, em 10 de agosto de 2021 (um verão úmido) e em 10 de agosto de 2022, evidenciando a intensidade da seca deste ano.
Enquanto isso, na Alemanha, a seca tem afetado a navegação no rio Reno. O mesmo ocorre na Itália, que declarou estado de emergência nas áreas próximas ao rio Pó, onde mais de um terço da produção agrícola do país está concentrada. Na Sérvia, ocorre uma mortandade recorde de peixes. E os incêndios florestais seguem castigando, sobretudo, Espanha, Portugal e França. Em declaração à Sky News, Andrea Toreti afirmou que, com a crescente falta de água em reservatórios e rios subterrâneos, a Europa precisaria agora de chuvas acima da média para se recuperar.