Vista do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás (Foto: Claudio Angelo/OC)

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Sociedade civil está pronta para monitorar devastação no Cerrado

Consórcio MapBiomas tem sistema de alerta que pode ser ativado “a qualquer momento” para evitar impacto de apagão de dados do Inpe

10.01.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

PRESS RELEASE

O Projeto MapBiomas afirmou nesta segunda-feira (10/1) que tem um sistema de alertas de desmatamento no Cerrado que pode entrar no ar imediatamente caso o governo decida enterrar os programas de sensoriamento remoto do bioma, o Prodes-Cerrado e o Deter-Cerrado.

 

Na semana passada o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) anunciou que, por falta de verbas, interromperá o monitoramento por satélites do desmate no segundo maior bioma do país a partir de abril. O motivo é falta de verbas: o instituto não tem R$ 2,5 milhões em seu orçamento para realizar o trabalho, feito desde os anos 2000 com recursos de um convênio com o Banco Mundial que expirou. A equipe responsável pelo Prodes (que dá as taxas anuais) e pelo Deter (que faz o monitoramento em tempo real) já foi desmobilizada.

 

Para comparação, o monitoramento da savana mais biodiversa do mundo, onde nascem as principais bacias hidrográficas do país, custa por ano o que o presidente Jair Bolsonaro gastou durante suas férias. É metade do que custaram ao contribuinte brasileiro as motociatas promovidas pelo presidente em apoio a si mesmo durante a pandemia.

 

Em nota pública, o MapBiomas, consórcio formado por duas dezenas de ONGs, universidades e empresas de tecnologia disse ver “com preocupação” que os sistemas do Inpe estejam ameaçados de descontinuidade por falta de recursos.

 

“Atenta aos sinais de que tal cenário pudesse acontecer, a equipe do MapBiomas vem desenvolvendo um Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) específico para o Cerrado, que pode ser ativado a qualquer momento para garantir o monitoramento do desmatamento no bioma”, afirmou o MapBiomas. “Esperamos que a ameaça de paralisação do Prodes e do Deter Cerrado não se concretize e que o trabalho de excelência realizado pelo Inpe continue a ser apoiado e valorizado. Mas, se isso acontecer, faremos todo o possível para que o monitoramento seja garantido e disponível a toda a sociedade por meio do SAD Cerrado.”

 

O último dado do Prodes Cerrado, publicado sem alarde no site do Inpe no fim do ano passado, mostrou um aumento de 7,5% na devastação do bioma em 2021. No ano passado, 8.531 km2 de Cerrado viraram fumaça, quase tudo para ceder lugar a pastagens e monoculturas como a soja.

 

“O apagão de dados do Cerrado era uma possibilidade real desde o ano passado. O governo sabia do risco e decidiu não agir, o que só permite concluir que, mais uma vez, se trata de uma ação deliberada do regime Bolsonaro para impedir que a sociedade tenha acesso a informações cruciais, como fez com os dados de Covid”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Felizmente a sociedade civil brasileira está mobilizada para disponibilizar os dados com acurácia e de forma gratuita para todos. Mesmo que o governo enterre o sistema do Inpe, os brasileiros e o resto do mundo saberão o que está acontecendo no Cerrado. Também como ocorreu com os números de Covid, reportados por um consórcio de veículos de imprensa, a tentativa do governo de esconder a informação não vingará. O Brasil é maior do que Bolsonaro e seus desmandos.”

 

Sobre o Observatório do Clima — Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

 

Informações para a imprensa

 

Claudio Angelo – Observatório do Clima

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