Biomas brasileiros em chamas
O Brasil já queimou 1,8 milhão km² de vegetação entre 1985 e 2022. 63% das áreas já pegaram fogo mais de uma vez
DO OC – Consegue imaginar a dimensão de 1,8 milhão km²? É a área de vegetação que já foi queimada no Brasil pelo menos uma vez entre 1985 e 2022. O número equivale a 21,8% do território brasileiro e faz parte do levantamento do MapBiomas Fogo lançado nesta quarta-feira (26). Os biomas mais atingidos no período foram a Amazônia (43,6%) e o Cerrado (42,7%). Atrás, seguem a Caatinga (5,7%), Pantanal (4,2%), Mata Atlântica (3,7%) e Pampas (0,3%). Por ano, a área média que padeceu sob o fogo no país foi de 161,2 mil km².
A pesquisa, que usa imagens de satélite e conta com o apoio do PrevFogo, do Ibama, aponta que 79% do total de queimadas no Brasil se concentram entre os meses de julho e outubro, sendo setembro o período mais intenso (34%). As épocas variam de acordo com os biomas, conforme é mostrado abaixo. Os dados também indicam que 63% das áreas queimadas pegaram fogo mais de uma vez. Além disso, é indicado que 68,9% do fogo atingiu a vegetação nativa e 31,1% foi em área antrópica – quando o solo já é ocupado por atividades humanas.
Os estados que mais queimaram ao longo do período analisado foram o Mato Grosso (431,9 mil km²), Pará (275,7 mil km²) e Maranhão (182,7 mil km²). No ranking nacional das cidades, as lideranças são de Corumbá (31,8 mil km²), no Mato Grosso do Sul, São Félix do Xingu (24,1 mil km²), no Pará, e Formosa do Rio Preto (13,3 mil km²), na Bahia. Elas estão localizadas nos biomas Pantanal, Amazônia e Cerrado, respectivamente.
Amazônia
A Amazônia é uma floresta quente e úmida, mas essas características não impedem que o fogo posto por pessoas para diferentes atividades, por exemplo, manejo agropecuário e desmatamento, se alastre. 809,5 mil km², o que equivale a 19,2% da floresta, queimou entre 1985 e 2022. 68% dessa área já pegou fogo mais de uma vez no período. 75% das queimadas ocorreram principalmente entre agosto e novembro, quando é o verão amazônico, época em que costuma chover menos na região.
As queimadas ocorreram principalmente em áreas já alteradas por ações humanas (55,7%), enquanto que 44,3% atingiram a vegetação nativa. No bioma, o estado que teve mais ocorrência de fogo foi o Pará, seguido do Mato Grosso e Roraima.
Na segunda-feira (24), pesquisadores enviaram uma nota técnica ao governo federal para que o novo Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) inclua ações contra a degradação da floresta amazônica, o que engloba o fogo. O PPCDAm esteve aberto para consulta pública até quarta-feira (26) e recebeu 540 sugestões para melhoria.
Os especialistas responsáveis pela nota técnica ressaltam que os incêndios podem causar a morte de até 50% das árvores, pois elas não são adaptadas ao fogo. Além disso, emitem mais CO2 e deixam a floresta mais vulnerável a novas queimadas, por causa do acúmulo de galhos e folhas da vegetação morta. Outro ponto é a mudança do microclima da floresta, que fica mais quente e seco, devido ao aumento de áreas abertas.
Cerrado
A vegetação do Cerrado é adaptada ao fogo, que contribui para a biodiversidade do bioma. Porém, o aumento da frequência e da intensidade dos incêndios por causa das mudanças climáticas, desmatamento e manejo humano descontrolado do fogo tem gerado muita destruição. 792,1 mil km², 39,9%, do Cerrado já pegou fogo, sendo a maior parte (88%) em vegetação nativa, principalmente nas savanas e áreas campestres. 89,5% do fogo ocorre principalmente entre julho e outubro. Ao menos 64% da área queimada foi afetada por incêndios mais de uma vez. Municípios do Araguaia e MATOPIBA, região composta pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, tiveram mais de 80% da área impactada pelo fogo indiscriminado.
Caatinga
A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, já teve 104,9 km² queimados, o que representa 12,2% da vegetação dela. Aproximadamente, 35% da área já foi vítima do fogo mais de uma vez. 76,5% do bioma foi queimado nos meses de setembro, outubro e novembro durante. Na Caatinga, as formações savânicas também são o tipo de cobertura vegetal com maior ocorrência de fogo, 79%. O Piauí, a Bahia e o Ceará concentram cerca de 71% do total que foi queimado em quase quatro décadas.
Mata Atlântica
A Mata Atlântica já teve 68,4 km², 6,7% do bioma, queimados. 72% da área afetada pegou fogo mais de uma vez. As queimadas ocorreram principalmente entre agosto e outubro. 68% da área foi incendiada nesta época. 58,4% do fogo ocorreu em área antrópica, principalmente em pastagens. O levantamento também mostra que as formações campestres são o tipo de cobertura natural com mais ocorrência de fogo na Mata Atlântica.
Pantanal
Segundo o MapBiomas, o Pantanal foi o bioma que teve a maior área proporcional queimada, 51%, o que equivale a 77,1 mil km². 93,5% do fogo ocorreu em vegetação nativa e 65% da área total queimou mais de uma vez. Os maiores incêndios aconteceram nos anos mais secos e após grandes cheias dos rios, pois os períodos úmidos contribuem para o acúmulo de biomassa, que na estação seca funciona como combustível para o fogo.
Pampa
O Pampa é o bioma com a menor proporção de queimadas. Foram 4,7 mil km² do bioma, 2,4%, afetados pelo fogo desde 1985. O fogo tem baixa recorrência e predominou na vegetação nativa (97%), principalmente nas formações campestres (89%). Os meses mais favoráveis aos incêndios foram de julho a setembro, após o maior acúmulo de biomassa da vegetação herbácea, que ocorre por causa das baixas temperaturas do inverno. (PRISCILA PACHECO)