Última década viu intensificação alarmante da crise do clima, diz relatório
Organização Meteorológica Mundial confirma que decênio 2011-2020 foi o mais quente já registrado e defende corte de emissões
DO OC – A década de 2011 a 2020 registrou um “crescimento alarmante” nas taxas e na intensidade das mudanças climáticas, apontou relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) lançado hoje (5/12) em Dubai, na Conferência do Clima da ONU. A última década foi a mais quente já registrada, com temperaturas da superfície terrestre e dos oceanos significativamente acima das médias das décadas anteriores.
Eventos extremos como ondas de calor, secas, tempestades e enchentes se tornaram mais intensos e frequentes, impactando a segurança alimentar em países mais vulneráveis e gerando massas de populações refugiadas. Enquanto isso, mostrou o relatório, a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, principais responsáveis pelo aquecimento do planeta, também seguiu aumentando ao longo dos últimos dez anos.
“Cada década desde os anos 1990 foi mais quente que a anterior, e não vemos qualquer sinal de que essa tendência esteja sendo revertida. Mais países registraram temperaturas recordes do que em qualquer outra década. Nosso oceano está aquecendo mais rapidamente e a taxa de aumento no nível do mar praticamente dobrou em menos de uma geração. Estamos perdendo a corrida para salvar glaciais e mantos de gelo”, listou Petteri Taalas, secretário-geral da OMM no lançamento do documento.
“Isso é inequivocamente causado pelas emissões de gases de efeito estufa resultantes da ação humana. Precisamos cortar emissões como prioridade máxima para o planeta, evitando que as mudanças climáticas saiam de controle”, completou Taalas.
A temperatura média global para o período de 2011 a 2020 ficou 1,1ºC acima da média pré-industrial (1850-1900), segundo o cálculo da OMM. Os anos mais quentes para o período foram 2016, marcado por um intenso El Niño, e 2020. O cálculo, é claro, não leva em conta o ano de 2023, confirmado pela OMM no primeiro dia da COP28 como o mais quente já registrado.
As médias regionais de temperatura também ficaram acima daquelas registradas no período de 1981 a 2010 na maior parte das regiões do planeta. Todos os seis blocos regionais adotados pela divisão da OMM (África, Ásia, América do Sul, América do Norte, Central e Caribe, sudoeste do Pacífico e Europa) tiveram o período de 2011 a 2020 como a década mais quente. O Ártico registrou as maiores anomalias positivas de temperatura da década, que em alguns pontos ultrapassou os 2ºC acima da média de 1981 a 2010.
A imagem mostra as anomalias de temperatura na década de 2011-2020, na comparação com a média de 1981-2010. (Fonte: OMM)
Outro ponto de destaque do relatório foram os dados nacionais sobre anomalias de temperaturas e recordes diários absolutos para temperaturas máximas, mínimas e precipitação, catalogados a partir de pesquisa realizada junto aos países-membros da OMM. Entre os 99 países que enviaram dados, apenas três tiveram temperaturas médias abaixo das registradas para o período 1981-2010. Entre os 96 países que registraram temperaturas médias acima das décadas anteriores, 32 observaram anomalias de 0,8ºC ou mais. O recordista foi o Qatar, com média 1,6ºC acima do período 1981-2010.
Os gases-estufa, causadores do problema, tiveram sua concentração aumentada e atingiram as 413, 2 ppm (partes por milhão) em 2020, sendo principalmente oriundos da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e mudanças no uso da terra. Para contextualizar: antes da era industrial, o CO2 atmosférico permaneceu por cerca de 10 mil anos em torno dos 280 ppm. “A média global de CO2 na década de 1991-2000 foi de 361,7 ppm; durante a década de 2001-2010, foi de 380,3 ppm, enquanto, em 2011-2020, aumentou para 402,0 ppm”, diz o relatório.
O documento apresenta ainda dados sobre ondas de calor marinhas (em todos os anos na última década, cerca de 60% da superfície do oceano sofreu com ondas de calor), aumento do nível do mar (a taxa para a década foi de 4,5mm, contra 2,9mm de aumento na década anterior) e degelo polar (Groenlândia a Antártida perderam 38% mais gelo entre 2011 e 2020 do que entre 2001 e 2010). Um mapa interativo com os dados pode ser visto aqui, e o relatório completo, aqui. (LEILA SALIM)