Em Davos, Xi Jimping alerta Trump sobre saída do Acordo de Paris
Presidente chinês abre Fórum Econômico Mundial, em Davos, com ode à globalização, ao livre comércio e ao crescimento limpo, e diz que guerras comerciais não produzirão vencedores
ED KING
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Se Donald Trump tinha alguma dúvida sobre o compromisso da China com o Acordo de Paris, não precisa ter mais.
Naquilo que pareceu uma mudança geopolítica, o presidente da China, Xi Jinping, fez uma firme defesa do pacto das Nações Unidas para limitar as emissões de gases de efeito estufa durante a abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), nesta terça-feira.
“Nós precisamos aderir ao multilateralismo, honrar promessas e cumprir regras. Não devemos selecionar ou driblar regras quando bem entendermos”, disse Xi.
“O Acordo de Paris foi produzido com muita luta. Todos os seus signatários precisam cumpri-lo e não abandoná-lo – é uma responsabilidade que precisamos assumir para com as futuras gerações.”
Livre-comércio, cooperação global e inovação foram a espinha dorsal da fala de Xi, que durou uma hora, ao final da qual o chinês foi ovacionado pelos líderes políticos e empresariais presentes em Davos.
Durante a campanha presidencial, Trump afirmou várias vezes que enfrentaria a China e reverteria o déficit comercial entre os dois países, que ele culpa pela perda de empregos na indústria americana.
O presidente chinês não citou os EUA uma única vez, mas sua ênfase na necessidade de os países “manterem a porta aberta e o campo de jogo nivelado” passou a mensagem claramente.
“Nós não deveríamos criar o hábito de recuar ao porto toda vez que encontramos uma tempestade, porque isso não nos levará ao outro lado do oceano”, prosseguiu Xi, apelando aos países para derrubar medidas protecionistas.
O líder da segunda maior economia e maior poluidor climático do mundo também indicou seu apoio à energia limpa, dizendo que os esforços da China em busca do crescimento verde estavam compensando.
O discurso marcou uma virada importante na retórica chinesa em torno do Acordo de Paris, disse Li Shuo, analista do Greenpeace Ásia. “Enquanto o presidente eleito Trump derruba o legado climático do presidente Obama, Xi pode estar estabelecendo seu próprio legado. O ano de 2017 representa uma oportunidade real para a China se erguer à altura do desafio da liderança climática responsável.”
Segundo Li, a China saiu da posição de “retardatário climático para a de líder cauteloso em apenas cinco anos na primeira metade desta década”, e é razoável esperar que se torne “um verdadeiro líder ao final dela”.
A fala de Xi foi o destaque maior de uma série bem calibrada de declarações de autoridades chinesas sobre mudança climática a menos de três dias da posse de Donald Trump.
O influente negociador chinês Xie Zenhua disse ao jornal estatal China Daily que o governo estava comprometido com o cumprimento das suas metas de Paris.
“A firme atitude da China em se engajar em ações sobre a mudança climática injetará confiança em meio a uma divisão crescente entre os pró-globalização e os antiglobalização”, declarou Xie.
Separadamente, Quiao Baoping, presidente da China Guodian Corporation – um dos cinco maiores produtores de energia do país – disse que as tendências de investimento de longo prazo tirariam a China do carvão.
Na última semana, o principal regulador de energia chinês ordenou o cancelamento de mais de cem projetos de carvão em 11 províncias, em linha com a promessa de cortar 150 gigawatts em carvão até 2020.
Esta reportagem foi publicada originalmente pelo site Climate Home, e é reproduzida pelo OC por meio de uma parceria de conteúdo